Outubro é o mês da limpa saudade.
As raparigas e os rapazes deixam de falar do insondável verão. Os telemóveis
suspiram, descansam mais um pouco, sucumbem até aos próximos fins-de-semana.
Sosseguemos. Fumam-se mais cigarros no intervalo da vida. E das vagas certezas
quotidianas arrefecemos antigos entusiasmos e outros devaneios futuros. Por
instantes, não queremos ouvir falar de promessas elencadas no calor das areias.
Os dias, subtis, escondem mágoas e às oscilações dos travesseiros contornamos
com o azul desbotado das camisas pois julgamos ainda que o Outono ainda não nos
venceu completamente. Olhamos em redor e vemos que há paredes que ficaram
eternamente por pintar. Prometemos que será no próximo verão de calendário. Até
que pode haver dias em que contrariarmos tudo isso. Pode ser hoje, já este
domingo? Claro que sim. Levantar com os galos, bem cedo pela manhã, querer
muito rever os animais que habitam neste meio do oceano, o atlântico, como
sempre na parceria daquele lobo do mar, generoso e sábio, mesmo que os motores possam hesitar nas horas do
regresso e, que, contrariamente a tudo o que possam dizer, persistamos no riso e na alegria, ainda que
outros continuem frios e distantes sem saber o valor destas horas de contentamento e
sem programa. Lembrar que no início da viagem aquela visita dos cagarros que
caem a pique, suspendendo a trajectória para impressionar o nosso esgar e lhe
seguirmos indefinidamente o rasto no redemoinho das vagas, até depois avistarmos
os alvos garajaus nos preparativos da partida até outros lugares de canícula e do
sereno do céu. Assim, sem plano traçado, apenas o céu de chumbo e de chuva, ora azul
ora cinzento, não prevendo um dia inteirinho no mar na sua cor de cobalto, com
a companhia de cachalotes, tão tímidos e exuberantes no seu bufar ou ainda de
dinâmicos golfinhos em velocidades leves e estonteantes, de tão exibicionistas naquele brio de
performances colectivas. Eis-nos, assim, de volta ao oceano e ao mar. Ao mar de
Outubro.