domingo, 5 de outubro de 2014

Mar de Outubro

Outubro é o mês da limpa saudade. As raparigas e os rapazes deixam de falar do insondável verão. Os telemóveis suspiram, descansam mais um pouco, sucumbem até aos próximos fins-de-semana. Sosseguemos. Fumam-se mais cigarros no intervalo da vida. E das vagas certezas quotidianas arrefecemos antigos entusiasmos e outros devaneios futuros. Por instantes, não queremos ouvir falar de promessas elencadas no calor das areias. Os dias, subtis, escondem mágoas e às oscilações dos travesseiros contornamos com o azul desbotado das camisas pois julgamos ainda que o Outono ainda não nos venceu completamente. Olhamos em redor e vemos que há paredes que ficaram eternamente por pintar. Prometemos que será no próximo verão de calendário. Até que pode haver dias em que contrariarmos tudo isso. Pode ser hoje, já este domingo? Claro que sim. Levantar com os galos, bem cedo pela manhã, querer muito rever os animais que habitam neste meio do oceano, o atlântico, como sempre na parceria daquele lobo do mar, generoso e sábio, mesmo que os motores possam hesitar nas horas do regresso e, que, contrariamente a tudo o que possam dizer, persistamos no riso e na alegria, ainda que outros continuem frios e distantes sem saber o valor destas horas de contentamento e sem programa. Lembrar que no início da viagem aquela visita dos cagarros que caem a pique, suspendendo a trajectória para impressionar o nosso esgar e lhe seguirmos indefinidamente o rasto no redemoinho das vagas, até depois avistarmos os alvos garajaus nos preparativos da partida até outros lugares de canícula e do sereno do céu. Assim, sem plano traçado, apenas o céu de chumbo e de chuva, ora azul ora cinzento, não prevendo um dia inteirinho no mar na sua cor de cobalto, com a companhia de cachalotes, tão tímidos e exuberantes no seu bufar ou ainda de dinâmicos golfinhos em velocidades leves e estonteantes, de tão exibicionistas naquele brio de performances colectivas. Eis-nos, assim, de volta ao oceano e ao mar. Ao mar de Outubro.