quinta-feira, 16 de maio de 2019

Espera-me

Nas praias que são o rosto branco das amadas mortas
Deixarei que o teu nome se perca repetido

Mas espera-me:
Pois por mais longos que sejam os caminhos
Eu regresso.

Sophia de Melo Breyner Andresen, in Coral, Obra Poética, Caminho.

Hoje há Poesia Amanhã Não Sabemos*

...
"Eu queria cantar para dentro de alguém,
sentar-me junto de alguém e estar aí.
Eu queria embalar-te e cantar-te mansamente
e acompanhar-te ao despertares e ao amanheceres.
Queria ser o único na casa
a saber: a noite estava fria
E queria escutar dentro e fora
de ti, do mundo, da floresta.
Os relógios chamam-se anunciando as horas
e vê-se o fundo do tempo.
E em baixo ainda passa um estranho
e acirra um cão desconhecido.
Depois regresso ao silêncio. Os meus olhos,
muito abertos, pousaram em ti;
e prendem-te docemente e libertam-te 
quando algo se move na escuridão."

Rainer Maria Rilke, in Para Recitar Antes de adormecer. 
*Título que glosa o álbum da Banda do Casaco - "Hoje há Conquilhas Amanhã Não Sabemos"