Agora que mergulhamos nas profundezas daquilo que julgamos ser os abrolhos
da nossa humanidade – "quantos seres humanos é que morrerão ainda à entrada da velha Europa?" –
conviria assistir, isto é, ver com olhos de ver, a curta metragem “Superfície”(2008), do realizador Rui Xavier. O pequeno filme, com a duração de uns curtíssimos treze minutos, parte de uma ideia bastante simples: um homem de meia idade chega
a uma praia para dar um mergulho no mar! E a partir daí é como se todo um mundo
se concentrasse naquela força e presença de um actor, sobejamente expressivo e
tenaz, como é neste caso, Marcelo Urgeghe. "Superfície” é, sem qualquer dúvida,
um filme que continua a interrogar-nos, não perdeu actualidade pois continua a revelar a sua enorme sensibilidade perante a nossa frágil humanidade, emergindo como vitalidade e resistência, condensando na sua poesia toda a sua força e o lirismo, ali
bem espelhados naquela deriva pessoal, humana e estética. É, certamente, muitas vezes na ficção e…num determinado tipo de cinema que
encontramos, de forma substancial e profunda, as imagens e a poesia que necessitamos para
sossegar esta nossa conturbada condição humana!