sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Arquitectura

Amanhã é outra vez sábado
o nosso encontro é num plano inclinado
linhas e traços de cariz festivo 
assim como quem não quer a louça
carregar livros por ruas de subida inóspita
descer com as compras Outono/Inverno
o medo é o saldo do futuro hipotecado 
virar páginas coleccionar gravuras 
a fotografia é o pintor sem fantasia
paga-se fim de semana com sossego
quanto é que tiraram do bago?
Amanhã é outra vez sábado 
entrar em casa habitualmente 
realizar educada saudação do dia 
a cabeça finda a noite não desliga 
afogam-se glândulas no mergulho
a coluna a amparar a rapariga 
e um estranho clarão disseminado. 


La Tendresse

«Somos dois a envelhecer 
contra as bordoadas do tempo
Mas quando vemos chegar
a morte trociscta 
sentimo-nos sós»


Jacques Brel
"Gosto da ternura. Gosto de dar e receber. Mas, de um modo geral, todos temos falta de ternura, sem dúvida porque não ousamos dá-la nem recebê-la. Sem dúvida, também, porque a ternura devia vir dos pais, e a família já não é o que era antigamente. A ternura esvai-se dia a dia e o drama é que não há nada que a venha substituir. As mulheres, em especial, já não são ternas como antigamente. O amor é uma forma de expressão da paixão. E a ternura é outra coisa diferente. A paixão desaparece mais cedo ou mais tarde, mas a ternura é imutável. Existe concretamente. Tenho a sensação de ter nascido terno. Penso que aquilo a que eu chamo amor nas minhas canções é, na realidade, ternura. E sempre o foi, mas só agora começo a aperceber-me disso."