Fotografia de Escultura de João Cutileiro (Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada) |
Não me recordo
da primeira vez que li poesia. Desde que me conheço que aprecio ler livros de
poemas, há ali qualquer coisa de preciso na reunião das letras, no agrupar das metáforas, nesse colher de sentido acorrilhado num texto poético. Ainda hoje não
soube explicar porque me contento tanto ao ler poetas ou quem me terá persuadido
neste ímpeto e safra diária que faço das letras que carecem de explicação. A generalidade
das pessoas de quem gosto e de quem sou amigo preza muito ler ou faz hábito da
leitura de poemas no quotidiano. Desconfio também que somos melhores a ler os textos do que
a compreender as pessoas e o universo que nos rodeia. O que faz com que a
maioria das vezes sejamos surpreendidos com as suas reações ou a incoerência e impiedade
dos seus comportamentos ou mesmo que reconheçamos quando alguém age
deliberadamente com o intuito de agredir alguém e pretenda abertamente pôr a pata
em cima. Desconfiamos, claro, do mal e tentamos realizar uma leitura
esforçada dos gestos de quem o pratica, ainda assim convém que não façamos de conta que nada se
passou. Os filósofos a sério, aqueles que gostamos de seguir, são aqueles que
sabem interpretar a humanidade que nos rodeia e conseguem predizer o futuro. Os
poetas, felizmente, não têm essa pretensão. Há qualquer coisa de vate que
faz com que consigam ler por instantes os pensamentos dos outros sem dar uma explicação
racional do mundo e da humanidade. Desta feita, os poetas “explicam” através dos versos, da vida feita metáfora, intuição, a nossa existência. E, por isso, é que passamos os dias a lê-los.