Depois da apresentação da
FALTA#2, com direito a um memorável concerto de Joana Gama e Jacinto Neves na
Igreja do Colégio, pronunciemo-nos, entretanto, sobre o conteúdo que vos chegou
às mãos. É possível que quem ainda não adquiriu a FALTA#2 tenha que dar corda
ao sapato para ver se ainda é possível pôr a vista em cima e, assim, poder
foliar à sua vontade.
Desta
feita, o número dois da FALTA/Folia tem uma diversidade de colaboradores que quis
conferir uma abordagem estimulante e vibrante ao tópico proposto. Há, por isso, oposição conceptual, inclusive, probidade vocabular e até mesmo contraditório à folia
reinante de enfiar a cabeça num balde, isto é, estamos na presença de múltiplas perspectivas e derivas
etimológicas da palavra face a distintos registos idiomáticos. Nestas páginas
da FALTA há, portanto, de tudo e para todos os gostos. O grafismo e paginação,
pertença de Júlia Garcia, resultam sempre numa novidade, apresentando, por
isso, uma colorida unidade formal, pontuando o diálogo das páginas de acordo
com o conteúdo formal proposto. O desenho final arrisca, não só do ponto de vista
cromático, já que promove a junção de diferentes disciplinas artísticas,
afinando assim o tom e o contraste, mantendo a junção e a coerência entre as
múltiplas vozes ali expressas. E nessa derivação gráfica bem foliona,
destacam-se os poemas de Judite Fernandes, Marco Evo, Rui Anselmo, Felix
Blanco, Pedro de Mendonza, Mayank Maheshwari, ainda a prosa esdrúxula de João Pedro Porto, o desfile erótico-marxista do Colectivo do Homem do Saco, o
apelo à sensualidade de Alberto Ai, as desovas comediantes de Igor Boyer, a auto-ironia de Greg La Lays ou o delírio galináceo-fóbico de Vítor Bernardo Almeida. Na fotografia, as sugestões
festivas de cariz insular das perspetivas de Guilherme Figueiredo e Pepe Brix, o ioga matinal na Índia por Briana Blasko ou a imagem crítica e atenta sobre a cidade de Jorge Kol de Carvalho. Nas letras, a curiosa narrativa marítima-epopeica à volta da família do escritor-velejador, Knud Andersen, através da pena de Elísio
Marques, pautada pela belíssima estampa de André Chiote. Ainda sobre a imagem ilustrada, acrescente-se a bd pessoana de Edgar Pêra, o fandango
urbano-skateano de Nuno Lemos, o empreendimento bibliográfico
de Luís Brum ou mesmo a plasticidade pueril de João Miguel Ramos. Nesta edição, houve também lugar para diferentes abordagens
na colagem, desta vez com dois dos seus maiores cultores a nível local – Mr.
Wolf e a artista plástica, Paula Mota. Por
último, uma referência ao espírito filosófico com um texto cavo e incisivo de Vítor
Bilhete sobre a existência de folia neste pedaço a meio do atlântico, intitulado “Filhos de Pangeia”, para lá da insanidade das páginas centrais em modo operante através de um Interrogatório a Felício Chanfra, psicoterapeuta de ocasião. Que tolice, dirão vocês!
PS
- Uma coincidência sem precedentes, invulgar e deliciosa, o que torna a
publicação ainda mais apelativa, foi saber que três criadores presentes nesta
edição venceram três prémios relevantes recentemente – Vítor Bernardo Almeida,
com o Prémio de Pintura António Dacosta, Açores 2018, José Loureiro, Prémio
AICA (relativo à Associação Internacional de Críticos de Arte, Ministério da
Cultura e Millennium bcp) e André Chiote, com o Prémio Asiago 2018, pelo selo dos CTT, "Europa, 2018", dedicado às pontes de Portugal Continental, Açores e Madeira. Os respetivos parabéns aos premiados e votos de um itinerário
artístico repleto de êxitos.