Do sítio: www.garboForever.com |
"Um velho preconceito condiciona, muitas
vezes, o olhar dos espectadores de cinema sobre os filmes mais “antigos”. Por
acção de uma cultura televisiva que tende a produzir ironia sobre qualquer
manifestação artística a que não seja possível colar o rótulo de “actualidade”,
tudo o que no remeta para épocas mais ou menos distantes é encarado como
pitoresco, anedótico e, no limite, irrelevante.
O trabalho dos atores, por exemplo. De
facto, não é verdade que o cinema mudo tenha sido habitado apenas por actores
peritos em esgares mais ou menos histriónicos. Em primeiro lugar, a evolução da
comédia até à eclosão do som, em finais da década de 1920, está longe de ser
coisa banal ou desprezível; depois, os atores transfigurando desde os primeiros
filmes que “reproduziram” a cena teatral até aos que, a pouco e pouco, souberam
diversificar as escalas das imagens e enriquecer específico da montagem.
Nesse contexto, Greta Garbo (1905-1990)
é um prodígio de versatilidade, subtileza e intensidade dramática. E não apenas
porque passou, incólume, do mudo para o sonoro. Também porque toda a sua
evolução revela um labor alicerçado na certeza d que a câmara de filmar, longe
de ser um mero objecto de registo, é uma “coisa” que refaz as coordenadas do
espaço e tempo, obrigando o actor/actriz a uma sofisticada arte corporal."
João
Lopes, in “Açoriano Oriental” 13 de Julho de 2017