segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Rita e a Classe Dominante

Não terás sido tu, Rita, a orquestradora
de semelhante cilada
naquele estio distante ao sopé do mar
o impedimento familiar da corte masculina
até ao calor das areias

Acautelariam tantos anos depois
ímpetos e associações
a natureza de classe e o indevido  
revisionismo tardio

Três poemas na deriva de PDL

Anjos Cantam Cerejas

Arde ao largo o único navio visível
a  perda consumada
rogar para aguentar o vento
talvez  escorraçar o temor
herdar cadernos com visões de ausências
estudos visuais e vetustos torpores
anunciam desgovernadas tormentas
ao presente
e os anjos bebem ao telemóvel  
o canto tardio das cerejas

 Relutante Silêncio
Olhas-me da janela da antiga habitação
uma árvore-casa  imagino
veias, vasos, extensos corredores,
ou naturalmente o inicial desenho
a colocação das mãos sobre a parreira
e o Inverno

Olhas-me debruçada sobre o alpendre
duvidas da hodierna construção
resistente da enfermidade infame
antena atenta desligados andamos
razão fecunda do ser
e o Inverno

Olhas-me com os braços na sacada segura
temor do que resta da recordação
espectros enviados de tempos idos
só acalmados pela queda dos troncos
teimoso e inconveniente silêncio
e o Inverno

 A Melancia no Feno da Páscoa

 Zappa visitou-me uma noite
num quarto de cigarros e madeiras
quebradas as convenções e um fósforo
o alumbrar de velhas rapsódias
trazia melancia no feno da Páscoa
idolatria e caixas de guitarras com cordas afinadas
esboroava trovas entre solos e cadeiras
boémia melodia do coro rendida
a líquida carroça amplificada  e
o foco de devaneios num apinhado
de artistas