Arde ao largo o único navio visível
a perda consumada
rogar para aguentar o vento
talvez escorraçar o temor
herdar cadernos com visões de ausências
estudos visuais e vetustos torpores
anunciam desgovernadas tormentas
ao presente
e os anjos bebem ao telemóvel
o canto tardio das cerejas
uma árvore-casa imagino
veias, vasos, extensos corredores,
ou naturalmente o inicial desenho
a colocação das mãos sobre a parreira
e o Inverno
Olhas-me debruçada sobre o alpendre
duvidas da hodierna construção
resistente da enfermidade infame
antena atenta desligados andamos
razão fecunda do ser
e o Inverno
Olhas-me com os braços na sacada segura
temor do que resta da recordação
espectros enviados de tempos idos
só acalmados pela queda dos troncos
teimoso e inconveniente silêncio
e o Inverno
quebradas as convenções e um fósforo
o alumbrar de velhas rapsódias
trazia melancia no feno da Páscoa
idolatria e caixas de guitarras com cordas afinadas
esboroava trovas entre solos e cadeiras
boémia melodia do coro rendida
a líquida carroça amplificada e
o foco de devaneios num apinhado
de artistas
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