quarta-feira, 22 de maio de 2019

Verso de Chico Buarque (Prémio Camões)

Olhos nos olhos, quero ver o que você faz

Revista LER nº152

         
              "A Companhia das Ilhas é uma pequena editora sediada na Ilha do Pico, um lugar altamente improvável para haver uma editora. Porém, é uma editora que já existe há alguns anos e faz um trabalho fantástico, não só de promoção de autores açorianos, mas também de outros autores. O Carlos Alberto Machado, o seu editor, tem um verdadeiro sentido de missão. No fundo, o que eles fazem é edição de serviço público, só que fazem essas edições com dinheiro privado. Quando encontramos pequenas empresas assim, com um compromisso tão grande com a cultura portuguesa e com a qualidade de editar livros bem-feitos e bonitos, se podemos construir parcerias neste país pequeno, acho que isso é muito importante."

Duarte Azinheira, in Revista LER, Inverno/Primavera, 2019, nº152.

Nómadas

Só o amor pára o tempo (só
ele detém a voragem)
rasgámos cidades a meio
(cruzámos rios e lagos)
disponíveis para lugares com nomes
impronunciáveis. É preciso percorrer os mapas
mais ao acaso
(jamais evitar fronteiras
nunca ficar para trás)
tudo nos deve assombrar como
neve
em Abril. Só o amor pára o tempo só
nele perdura o enigma
(lançar pedras sem forma e o lago
devolver círculos).

João Luís Barreto Guimarães, in O Tempo Avança por Sílabas, Quetzal, 2019.
(Poema inserido na revista LER, Inverno/Primavera, nº152)

Da Leitura

“Aquele professor não metia à força o saber, oferecia o que sabia. Era menos professor do que trovador – um daqueles prestidigitadores de palavras que frequentavam as hospedarias dos caminhos de Santiago e que cantavam canções de gesta aos peregrinos analfabetos.
            Como tudo tem de ter um início, todos os anos reunia o seu pequeno rebanho nas origens orais do romance. A sua voz, como a dos trovadores, dirigia-se a um publico que não sabia ler. Abria olhos. Acendia lanternas. Dirigia as suas gentes pela rota dos livros, peregrinação sem fim nem certezas, encaminhamento do homem para o homem.
-O mais importante, era ele ler para nós em voz alta, era a confiança que ele colocava imediatamente no nosso desejo de compreender…O homem que lê em voz alta eleva-nos à altura do livro. Ele dá verdadeiramente a ler!”
 Daniel Pennac in Como um Romance, pág.38, edições Asa.