Aqui na ilha o tempo move-se
como um cachalote ferido
Enquanto as chuvas de
dezembro alagam os dias
as fotografias do gavetão
molham a noite por dentro
E ela sabe: a ilha é uma tumba
onde os mortos estão vivos.
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É no interior da noite
que bebemos o vinho pisado
por deuses e entramos
resolutos pelas horas tardias.
Rimos e enganamos o
frio na carícia do lume.
Olhamos o rio e nas margens
das nossas cabeças não há
palavras que descrevam a loucura
e o medo.
Juntos atravessamos a noite
com o nosso andar felino
descobrimos que a escuridão é
feita de gatos vadios e casas
pardas.
E quando a madrugada chegar
não sabemos o que iremos fazer
com as nossas mãos.
in Anuário de Poesia de Autores não Publicados, 2015, Assírio&Alvim.