"Half-Heard" é um espectáculo de dança contemporânea pertencente ao Rocha Dance Theater.
Este foi apresentado na noite de sábado, dia 6, no Teatro Ribeiragrandense com
uma sala atenta e bem composta, num ambiente desperto que seria necessário para
esses primeiros quarenta minutos de pura representação dos vícios, visões e meandros do
poder, manifesto nos tiques e linguagem gestual dos poderosos, e que se foi tornando evidente aos nossos olhos. Pergunta: qual é o papel da mulher no meio disto tudo? "Half-Heard" exalta o mundo feminino, a delicadeza, o compromisso, e
por isso há muita energia em palco, com as performers a cativarem o público pela sua cadência obsessiva dos gestos masculinos num ritmo tonitruante que as faz lutar pela única cadeira em palco. Conseguirão?
A
primeira parte de "Half-Heard" é, simplesmente, absorvente e intensa com os corpos
femininos em uníssono mascarados pelos habituais fatos e trajes masculinos em
poses que debatem no ridículo e ultrajante foco pelo altar do poder, sucumbindo apenas ao grito e
frémito latente da tortura dos que permanecem submissos ao seu jugo e violência. Como cantava Zeca Afonso: “Mulher
na democracia não é biombo de sala”. Seguiu-se depois a peça estudantil, com muita ousadia e policromatismo em palco, e ainda o "Running Time" para fechar em beleza este hino ao corpos em movimento onírico.
Esta coreografia teve a direção de Jenny Rocha, com ligações familiares à comunidade açoriana, a música original de Joseph Rivas, por sinal, grave e profunda, que marcava o compasso, esclarecendo a exaltação
dos gestos das bailarinas em palco, num elenco composto por: Alexandra Bitner, Dervla Carey-Jones, Nikki Ervice,
Jamie Graham, Nicole Lemelin que assim se expunham de forma enérgica e clara, revelando a tirania dos
gestos viris, as feições carregadas da opressão em curso e que se manifestam ao longo
dos tempos. Continuarão?
E, por instantes, foi assim que, ainda que durante muito pouco tempo, Nova Iorque invadiu São Miguel em pleno Outono! Valeu a pena!