Escrevo
para si, Janeiro Alves, em Novembro, mês de castanhas assadas e vinho novo. Recebi
com júbilo a sua missiva no fim de tão melancólica estação, já que é no Outono
da minha existência em que me encontro, consciente dessa descida do Everest
desta humilde biografia que agora lhe dou conta. À semelhança de Manaia Júnior,
o mais aventureiro dos Manos Manaias, tenho procurado afastar-me dos olhares
públicos, refugiando-me no sossego do atlântico e do mar e outras águas menos turvas, essa fonte de riqueza
espiritual e, obviamente sonora, dado que também Shubert foi seu epígono quando
decidiu compor a obra musical “A Truta”`, à volta de um lago.
Recentemente e, dada as condições
miseráveis da prolongada sanguessuga financeira a que estamos condenados, decidi
evitar saborear bivalves, crustáceos e demais peixes do oceano, pois não vá uma brigada anti-ácidos
gordos e Ómega 3 se encontrar por perto e me obrigar a devolver as carapaças e as espinhas. Li, portanto,
com uma inconfessável e desmesurada jóia, a sua missiva dando conta desse
improvável e sangrento encontro com Vivaldo Manaia. Que horror, essa matilha de
Vivaldo, confirmando assim a lenda que já no berço este distinto Manaia estava
rodeado de espécies canídeas em redor. Ainda bem que não houve danos de maior e
que o meu caro amigo ainda se movimenta. Entretanto, sabia o meu bom amigo, que
me encontro a visitar a mais digna literata e filósofa dos Manaias, a Miriam, que está de
volta ao clã para se dedicar de punho firme e desmanchada certeza a escrever uma
biografia póstuma da família. A Miriam continua delicada e esbelta, tendo eu descoberto há dias,
enquanto lavava os meus alvos dentes, que ela tinha vedado o “lava-pés”, já que
não gosta de partilhar a água da torneira com que lava as cartilagens dos seus membros com mais
ninguém…esta Miriam é incrível!
Tenciono, por
isso, dar-lhe conta desta minha aventura pelas terras do chã, das folhas de
tabaco e dos ananases com maior brevidade.
Seu servo,
Doutor Mara.