Daquele dia em diante nada havia
de ser igual. Era um azul marinho que se me avizinhava sempre de cada vez que
me aproximava da janela. No entanto, estava escrito no céu que eu podia
repousar os pés na calçada da vetusta e patrimonial cidade. Sopram os primeiros
ventos de outono e com eles deixarei esta terra carregada de sal e de memória.
Não olharei para trás. Senti-me gasto, dormente. Os dias deixariam para trás essa
secreta claridade estival. Reforçavam a miserável capa do manto cinzento que
recaía sobre aquela dupla árvore em braços estendida. E nada voltou a ser como
alguma vez tinha sido, o céu permanecia escondido e assim haveria de permanecer,
cobrindo um memória carregada e triste. Talvez nos tivéssemos gasto, é verdade.
Talvez fosse a altura certa de nos retemperarmos e abrirmos ao sal envolvente até
que dentro de nós saísse uma alma com fogo, em chamas, renascida. Não olhemos mais
para trás, não há certeza de que a dormência se instale, nem que aquilo que nos
invada possa equivaler ao vazio das conversas e da vida. Há um horizonte pela
frente para avistar. O vento amansa em vontade mineral e o salitre invade por
instantes a minha alma carregada de memórias. Eu sei agora, talvez eu tivesse
sabido sempre que amanhã a minha vida, as nossas vidas, encarregar-se-ão de ser
completamente diferentes. Haja esperança.
PS-Com o mote inicial dado pelo E.C, digno representante da Old School.