Há três anos assisti a uma conferência do professor Nuno Crato num auditório de uma escola. O objectivo era estimular o gosto pela aprendizagem dos números, reforçar o papel e estudo da Matemática bem como compreender e interpretar a importância da aplicação dos números e do cálculo matemático em sociedade. Nada contra, bem pelo contrário, pois enquanto ouvi aprendi, escutei com interesse, atenção e prazer a prelecção, muito embora este tivesse começado o seu discurso por apelar à desconfiança das aprendizagens da Filosofia em detrimento das ciências exactas. Incomodava-o na Filosofia, o discurso redundante, a ausência de intencionalismo nas aprendizagens, a falta de aplicação dos conhecimentos.O auditório composto por alunos de científico-naturais e professores da disciplina de Matemática aceitou sem contestar o argumentário pois há muitos anos que o vento sopra a favor dos números, das contas, das estatísticas, ainda que sem grandes resultados aparentemente favoráveis. Esperemos mais um pouco e tudo façamos pelo rigor científico da contas e dos números. O que já se torna mais ingrato é ser professor de Filosofia sem pensar nas consequências de tais mistificações, passar o ano a referir a relevância de coisas valiosas ainda que tenham uma aplicação prática no quotidiano, ou que mesmo os alunos digam que estas coisas filosóficas não sirvam para nada. Sabemos também que sem conceitos e o seu esclarecimento não se consegue pensar, o mesmo se pode dizer que sem pensamento analítico e crítico as coisas não avançam assim como nunca foi tão necessário a produção e fundamentação de argumentos válidos e convincentes para convencer adversários ou opositores. O garrote e desdém pela Filosofia não é de agora, já começou há muitos anos, falta apenas saber até quando irá continuar???