segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Amor como em Casa de Manuel António Pina

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa, 
compro um livro, entro no
amor como em casa.
 

Centro Cultural Centquatre Paris

Cartaz Change is Good 
José Albergaria 
Colecção Designers Portugueses

 

À Memória de Otto Dix

         
      Já passaram cem anos da Gripe Espanhola - ocorrida entre 1918-1920 - onde sucumbiram cerca de cinco milhões de pessoas logo após a Primeira Guerra Mundial, com  quatro anos de duração, mais concretamente entre os dias  28 de julho de 1914 até 11 de novembro de 1918. Uma guerra que marcava a primeira metade da década do século XX, travada por duas grandes forças opositoras organizadas em duas alianças: os Aliados ( Reino Unido, França e Rússia) e os Impérios Centrais (Alemanha e Áustria e Hungria). A mobilização atingiu os sessenta milhões de europeus e morreram mais de nove milhões de soldados. Um desastre como se pode calcular! A primeira década de vinte fechou, assim, com uma mortandade assinalável. 
    Um desses soldados mobilizados deu pelo nome de Wilhelm Heinrich Otto Dix, nascido em Untemhaus, na Alemanha, e que veio mais tarde a tornar-se uma das figuras de proa do expressionismo alemão e onde seria imediatamente censurado com a ascensão do nazismo ao poder. Conhecedor dos horrores da Primeira Guerra Mundial, tornar-se-ia conhecido pela suas postura anti-belicista, materializada  na sua obra “A Guerra”, funcionando o seu trabalho visual, ainda hoje, como reflexo e símbolo de qualquer luta contra a irracionalidade e bestialidade da guerra.

Agosto com Cinema nos Cineclubes

       
            São apenas quatro quilómetros que separam as duas cidades nortenhas (Póvoa de Varzim e Vila do Conde) e onde sempre coexistiram cineteatros com longa tradição na exibição de cinema. Estamos, assim, no Verão e ambos os cineclubes oferecem sessões com filmes a quem está de férias. As ruas encontram-se novamente cheias de turistas com línguas diferentes, assim como o português do Brasil é agora de fácil de escutar em qualquer espaço de convívio. Há, como é tarimba cineclubística, filmes dos quatro cantos do mundo para ver e apreciar. Começámos pelo francês “Os Filhos dos Outros”, de Rebecca Zlotowski, que retrata a vida de uma professora de meia idade que um dia conhece Ali, com quem desenvolve uma relação afectiva, sendo este pai de Leila de quatro anos. Virginie Efira, no papel de Rachel, chega assim a questionar o seu percurso existencial: ser mãe ou entregar-se ao cuidado da filha do companheiro. Um belíssimo papel de uma actriz num filme comedido. Continuando no cineclube Octopus, espaço afirmativo de uma programação cinematográfica diversificada e eclética, agora a completar quarenta anos de idade, voltou a apresentar – “Tenho Sonhos Eléctricos”, de Valentina Maurel. Um filme costa-riquenho que nos transporta até uma adolescência virada do avesso pelo divórcio dos pais e que é um mergulho nessa inquietação juvenil com dores e crises de crescimento, ainda que repleto de lugares-comuns, sempre com muito ritmo e muita alma. Dias depois e, de regresso ao Solar de Vila do Conde, para assistir na noite de sábado ao ar livre a “Elis &Tom”, de  Roberto Oliveira. Cem minutos de pura maravilha, com imagens e depoimentos de João Marcelo Bôscoli (filho de Elis Regina), Helio Delmiro (guitarrista do disco “Elis&Tom”), André Midhani (diretor geral da Polygram em 1974), Beth Jobim (filha de Tom Jobim), Nelson Mota (escritor e compositor), César Camargo Mariano (pianista e arranjador do álbum), entre outros. Quase cinquenta anos depois vemos imagens inéditas, o relato e as incidências desse álbum considerado por muito boa gente com uma obra prima.  
          Por fim, ainda que dentro da programação estival do Cineteatro Garrett, houve tempo para visionar  “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, que retrata o universo da energia nuclear e o conhecimento que deu origem à criação da bomba atómica, num filme recheado de efeitos visuais com uma forte componente sonora e que tem na presença fulgurante de Cilliam Murphy, o seu motivo explosivo. E, talvez por isso, num verão ainda que sobre aquecido...teremos sempre estas cidades costeiras amantes da sétima arte e da nortada bem fresquinha!

Flirt da Galeria Zé dos Bois

Projecto do Atelier Barbara Says
José Albergaria 
Colecção Designer Portugueses 



 

Design de José Albergaria

José Albergaria
Colecção Designers Portugueses 
    Os livros recentes "Nuvens" e "Chá nos Açores Uma Tarde na Gorreana", que versam o arquipélago açoriano, foram desenhados por José Albergaria, a convite da Araucária edições. José Albergaria é açoriano (Ponta Delgada, 1970) e vive na capital das luzes: Paris. É por lá que desenvolve actividade gráfica de puxar pelo olho e atenção do leitor, tendo começado muito novo a desenvolver o grafismo em revistas, jornais e afins. Na pesquisa  da sua obra encontrámos trabalho ou projectos gráficos efectuados pela “Chang is Good” em publicações distintivas como o jornal “Libération”, a revista “Cahiers de Cinema”, ou mesmo a marca de cerveja “Vedett”. Recentemente desenhou o catálogo “Tudo o que eu quero — Artistas portuguesas de 1900 a 2020”, pondo em relevo a obra de 40 artistas mulheres, oriundas de percursos e gerações distintas.