Fotografia de Tiago Rodrigues |
Cheguei à Ilha Terceira ao tombar
da tarde, tudo me parecia absolutamente fascinante. E à cidade de Angra somente
uma hora depois. Chovia. Encontrei um centro da cidade carregada de história e de
património e à qual tinham acrescentado o dado mundial e, que ainda assim, não era causador de atracção
turística. As suas casas e ruas tem um mistério de séculos e foi nessa ânsia de
busca de conhecimento e passado que mergulhei através do “taxista-poeta” nas
histórias de uma cidade aberta à minha curiosidade. Descobri no caminho para a
cidade de Angra que bem perto do centro há um cemitério hebreu. Tomei um banho
no hotel, jantei um amanteigado prato de lapas no Aliança e telefonei novamente
ao taxista que me tinha acompanhado. Solicitei que me acompanhasse ao “Campo da
Igualdade”, ao mesmo tempo que interroguei sobre a possibilidade de vir comigo ao
tão afamado cemitério hebreu questionei sobre se este sabia mais alguma coisa
sobra a passagem dessa comunidade em Angra. Este disse-me que quando terminasse o
serviço nocturno que me ligava. Entretanto, munido do prospecto turístico que
me tinha sido oferecido no aeroporto, caminhei em direcção à elogiada baía de
Angra, inscrita em todos os roteiros turísticos. Após uma centena e meia de
escadas, deparei-me com o antigo Mercado Dona Maria Pia, actual Centro de
Ciência, situado no antigo caminho dos Côrte-Reais e tinha sido inaugurado a 23
de Agosto de 1884, ainda que neste folheto não diga quem foi o desenhador ou
arquitecto de tão particular edifício. Minutos depois, o taxista ligou e, após
duas ou três histórias caricatas da sua profissão, referiu que estava a caminho. Cheguei ao
cemitério de madrugada e com ele trazia um folheto encardido, muito antigo,
sobre a presença hebraica na ilha, escrito por um tal de Pedro de Merelim, e
que me cedeu para ler durante essa curta viagem. Descobri de imediato que um Fortunato
Benjamim, às portas de deixar este mundo e sem vontade de se juntar às almas
inglesas no cemitério protestante, comprou à câmara municipal um terreno por
300 mil réis em 1832 com o intento de juntar por ali as almas da sua comunidade.
Quando ali aportamos, ainda tentei subir o muro mas assustei a minha companhia
nocturna, refreando o ímpeto constatei que o melhor seria voltar quando este
se encontrasse aberto ao público. De volta ao hotel, passei a noite em branco a
ler aquele livro emprestado com a promessa que o devolveria em mão na manhã do
dia seguinte.