segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Tereza Arriaga: "Os Meninos do Vidro da Marinha Grande"

"Os Meninos do Vidro"
        Há três anos, exactamente por esta altura, o avião da SATA que me trouxe das Flores  de volta à Ilha Terceira tinha o nome de Manuel de Arriaga, o primeiro presidente da República. Uma semana antes tinha tido a notícia do falecimento da sua neta: Tereza Arriaga. Acasos. Coincidências. Durante a minha estadia nas Ilhas do Pico, Terceira e Faial dei a ver, com a ajuda do Boletim Cultural Fazendo (https://issuu.com/fazendofazendo/docs/fazendo_42_onlinee da Tereza, evidentemente, os slides de viagem deste casal de artistas plásticos fez ao arquipélago dos Açores, no início dos anos 70 do século passado. Um périplo insular em que estes fizeram novecentos slides, percorrendo as várias ilhas de carro e de barco. "Olha, ali está o Jorge!", diria ela numa sessão nocturna com a projecção nas paredes da Igreja de São Francisco, na cidade da Horta. Uma vida cheia, portanto, só concluída aos 98 anos. Tereza Arriaga foi professora de Artes Visuais mais de três  décadas no ensino secundário, sendo das poucas mulheres do seu tempo formada em Belas Artes. Ao seu lado teve como companheiro de vida, o pintor Jorge de Oliveira. Inicialmente, decorria o ano de 1944, começou por desenhar os meninos que trabalhavam o vidro nas fábricas da Marinha Grande. Aqui fica uma imagem desse registo. 

À Luz e à Sombra de Alexandre O´Neill – Trinta anos depois

Fotografia Carlos Olyveira a partir de desenho de João Lázaro
          “À Luz e à Sombra de Alexandre O´Neill – Trinta anos depois” foi o pretexto para que nos juntássemos e lêssemos textos do poeta falecido a 21 de Agosto de 1986, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa. Desta feita, a poesia de Alexandre O´Neill obteve novos timbres, ritmos e cadência de quem o quis homenagear no "Lisboa, Menina e Moça", ali mesmo no centro histórico de Ponta Delgada. Recorde-se que este poeta não era muito dado a celebrações e homenagens. Lembrou-se também o seu percurso pela publicidade, já que ele ficou conhecido pelo "há mar e mar, há ir e voltar". E o fadista Mário Fernandes cantou o seu poema “Gaivota”, acompanhado pelo Alfredo Gago da Câmara, sabendo nós que este não era apreciador de fado pela associação ao regime salazarista.  A noite de domingo não foi, por isso mesmo, uma feira cabisbaixa, tendo tido um ponto muito alto quando a Margarida Benevides disse um texto (gravado no coração) do poeta que resume, e de que maneira, a sua existência literária: “Que quis eu da poesia? Que quis ela de mim? Não sei bem. Mas há uma palavra francesa com a qual posso perfeitamente exprimir o rompante mais presente em tudo o que escrevo: dégonfler. Em português, traduzi-la-ia por desimportantizar, ou em certos momentos, por aliviar, aliviar os outros, e a mim primeiro, da importância que julgamos ter. Só aliviados podemos tirar o ombro da ombreira e partir fraternalmente, ombro a ombro, para melhores dias, que o mesmo é dizer, para dias mais verdadeiros. É pouco como projecto? Em todo o caso, é o meu. O que vou deixando escrito, ora me desgosta, enjoa até, ora me encanta. Acontece certamente o mesmo aos outros poetas, tenham estatuto ou não. Mas comigo, talvez essa oscilação se dê com mais frequência. É que a invenção atroz a que se chama o dia-a-dia, este nosso dia-a-dia, espreita de perto tudo o que faço. É o preço que tenho pago para o esconjurar, pelo menos nas suas formas mais gordas e flácidas.” E ao que parece, as pessoas que assistiram gostaram!

A Poesia em Movimento

Fotografia de André Almeida