No País de Alice é um bonito filme! E, ultimamente, não abundam filmes bonitos! É um filme para todos aqueles que ainda gostam muito de Portugal, uma declaração de amor a este país antigo com séculos de história, um cartão postal apaixonado em forma de poema visual para um país que não desiste das suas raízes, que não renega, mas, sim, exalta a valorização do seu território periférico e que, por sinal, ainda não vacilou completamente perante uma globalização que tudo oblitera, uniformiza e condena ao desaparecimento.
Neste documentário de quase duas horas, o
realizador socorre-se da sua filha para mostrar este bonito país que se recusa a desaparecer. Para dar conta desse testemunho, Rui Simões viajou com Alice para lhe mostrar
uma paisagem rica e variada, que vai dos Açores a Pitões das Júnias, passa pelo Soajo,
Aveiro, Idanha-a-Nova e Belgais, para depois se encerrar em Lisboa, por motivos
do pesadelo inicial da pandemia da Covid-19. Mas nem só de história e tradição
vive este “No País de Alice” –
essencialmente na força das filarmónicas e dos caretos – já que também arrisca com os nómadas digitais que se
afastam dos grandes centros para viver junto da natureza ou a ideia do guardião
do tejo que usa as redes para denunciar a poluição, para lá da galeria de
imagens e de afetos do fotógrafo Álvaro Rosendo, ainda a escola de música de
Belgais, pela mão de Maria João Pires, que nos traz a arte de viver. E, por
falar em música, nada mais imprevisto e entusiasmante do que seguir estas
imagens acompanhadas pela sonoridade dos Dead Combo, na guitarra mítico-mágica
de Tó Trips, para além do desfecho desesperante e sombrio pela voz de Nick Cave.
Última nota para aludir que o filme foi
exibido em antestreia nacional na sala 2 do Teatro Ribeiragrandense, e que, ainda
dentro deste ciclo de documentários promovidos pelo Clube de Cinema local, exibirá já esta sexta-feira, outro belo e
instigante documentário intitulado - “Les Açores de Madredeus”, de Rob Rombout que, à semelhança de Rui Simões, também ele, estará presente para falar com o
público açoriano.