quarta-feira, 30 de março de 2016

Carta Primaveril a Janeiro Alves

Caro amigo Janeiro Alves,

Espero que se encontre bem de saúde mental e física agora que sei que decidiu voltar ao seu hábito de juventude de inalar rapé, uma superficialidade francesa deixada pelos seus ascendentes da Bretanha e que o amigo Janeiro nunca abandonou verdadeiramente.
Estou neste momento a escrever-lhe após um abundante prato de chicharros e um jarro de chá de gengibre. Há dois dias fui interceptado pela Brigada dos Costumes Morais onde me cofiscaram vários quilos desse importante desifenctante intestinal e promotor de saúde revigorante. As autoridades não permitem que me faça munir de tal substância em grandes quantidades daí eu ter que me desfazer deste material com grande rapidez.
Por aqui, prepara-se o mês de Abril que irá irromper com ventiladas e frescas novidades, algumas com sabor a renascimento e outras à espera que algum transeunte desvairado lhes dê uma rápida estocada final.  Já não é novidade nenhuma que a nossa amiga comum, Miriam Manaia, irá realizar uma grande exposição, reunindo uma parte considerável da sua excelsa obra intitulada “Deslocamo-nos pelas Cores Incandescentes do Desejo”. É uma exposição desmedida em perspectiva, pois não faltarão as suas obras iniciais que a tornaram tão bem conhecida do grande público - “Cerveja Depressão”, "A Existência Ameaçada Pelos Guarda-Sóis" e “Flecha Furiosa Arremessada”. Ultimamente e, dado que ela revela alguma fadiga e impaciência, temos passeado junto do mar sempre com os moinhos por perto. Temos conversado essencialmente sobre as recentes incidências do mundo moderno, pelo qual terminámos sempre com os olhos marejados e abraçados em soluços convulsos. Comunico-lhe também que partirei em breve num périplo pelas universidades portuguesas com a seguinte preleção “Gentrificação: atração ou repulsa?”, um tema por sinal bem quente e actual para um auditório há muito desinteressado destas questões contemporâneas.
Sobre si, meu caro amigo, não tenho obtido qualquer novidade, dado que apenas sei que se tem pavoneado pelos salões da intelectualidade lisboeta com as obras de Santa-Rita Pintor, Amadeo de Souza Cardozo ou José Júlio de Souza Pinto. Será que o meu amigo está mais interessado na teoria e mundanidade das obras de arte do que a sua execução ou materialidade? Soube também que faz prelecções diárias num “Canto de Alfama”, onde disserta sobretudo sobre a ausência e míngua do sentimento do amor num mundo pós-moderno e apocalíptico.
Despeço-me, aguardando as suas novidades que poderão surgir a qualquer momento destes dias alargados.
Com estima e amizade,
Doutor Mara

Um ano de Grémio

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Acto Político

"A maior parte dos nossos gestos diários são políticos. O consumo, por exemplo, também pode ser um acto político."

Catarina Portas em entrevista a Carlos Vaz Marques, in Público, 27 de Março de 2016.