A Ultrapassagem, 1962, de Dino Risi |
Dino Risi filmou há cinquenta anos a sua versão cinematográfica do verão italiano: a sombra e o sol, a cidade e o campo, a praia e o mar, a amizade e a aventura. Para isso, muniu-se de dois atores: Jean Louis Trintignant e Vittorio Gassman (ainda que a primeira escolha fosse Alberto Sordi). O cineasta, com formação em Medicina, começa por dar-nos a conhecer essa célebre expressão italiana “Ferragosto”, um feriado italiano celebrado a 15 de Agosto, motivo de patriótica comemoração. Associado à celebração da metade do verão e do fim das colheitas nos campos, seria a Igreja Católica a adoptar a data para celebrar a assunção da Virgem Maria. Actualmente o Ferragosto é o dia em que milhões de italianos deixam as suas cidades de origem e demandam outras paragens em busca de repouso ou diversão.
O Verão de 1962 em Itália cheirava a spaghetti e a
boom económico, a economia crescia e o automóvel epitomizava a sociedade do
progresso e do bem-estar. Este é o primeiro road-movie da história do cinema,
sete anos antes de “Easy Rider” de Hopper, ainda que aqui fosse o volante do Lancia
Aurelia B24, e o som da mítica Klaxon, ao qual imprime velocidade e um ritmo
estonteante, quase sufocante. O carro é aqui a expressão da liberdade e da
velocidade, inaugurando um tempo novo, repleto de comodidades, movimentações e
deslocações.
Vittorio Gassman, que participou em treze filmes de
Risi, encarna aqui a personagem do fanfarrão, mestre na arte de saber viver, um
homem de meia idade que se deixa ir com a ligeireza e leveza da estação dos
grilos e das cigarras. Sempre com a resposta pronta na ponta da língua, ávido
dos prazeres terrenos e imediatos, forçando a companhia de quem estivesse próximo. É um filme fresco, quente, sob o signo
de Eros, que obteria em português o título “Ultrapassagem”, mas que teve também a tradução de "O Fanfarrão". Curioso, não é?