Ribeira das Tainhas, fim de Abril.
Caro Janeiro Alves,
Folgo em saber que tem um quarto reservado para mim na sua nova mansão, pois tenciono visitá-lo muito em breve. O dia está próximo, julgo que será no Dia Internacional dos Museus, onde pretendo visitar o seu distinto museu caseiro dedicado aos pequenos brinquedos de madeira com que brincávamos na infância. Fico também feliz em saber que já se encontra a preparar os melhores filetes de peixe para nossa degustação, no entanto, dispenso o espumante Raposeira, dado que ultimamente só consigo saborear o Frescobaldi Pomino, oriundo da minha Toscânia querida. Estou, assim, ansioso por pernoitar em seus aposentos e desfrutar dessas duas raspadinhas e da lata de salsichas do tipo Frankfurt com que me presenteará nas boas vindas. No dia seguinte, após a chapa memorial-repetitiva que imortalizará o nosso pequeno almoço para todo o sempre, regressarei a casa num balão de ar quente. Sei há muito que Janeiro Alves é um apreciador da normalidade e, ainda que pudesse permanecer muito mais tempo, é meu desejo entrar em casa antes do anoitecer.
Termino, assim, este postal com um calo vigoroso no dedo do meio e uma dor de costas intolerável, muito porque que escrevo deitado no chão para que as ideias possam fluir. A propósito do regresso de Miriam ao solar não posso estar mais de acordo consigo, já que acabei de saber que Miriam partiu rumo ao deserto em busca duma liberdade juvenil perdida. Felizmente travei a tempo o meu ímpeto primaveril para me enamorar! Ou será que o deserto é o lugar terapêutico necessário para quebrar com todas as ambições e augúrios terrenos?
Ansioso por revê-lo e com elevada estima,
Doutor Mara