terça-feira, 20 de junho de 2017

Ontem, escrito numa parede da cidade

Amanhã envio-te um email

O Largo do Colégio Recuperado

Fotografia de Carlos Olyveira
Falta apenas um dia para a entrada oficial do verão de calendário, está calor e a cidade acorda deserta. Anunciam-se os santos populares e os cartazes de festas com músicos e animadores nados e criados nas televisões, rezam enchentes pelas redondezas e ninguém quer perder as vistas ou pitada. A fachada do grande teatro micaelense ostenta o cartaz da peruana Susana Baca, que curiosamente está vestida com a mesma cor de vinho que ornamenta a madeira que circunda as portadas. O céu, no entanto, está azul, limpo, sente-se uma humidade tropical e ainda bem que estamos rodeados de mar por todos os lados. O continente português, esse, arde para nosso pesar e impotência.
Entretanto, foi inaugurada a requalificação do Largo do Colégio de Ponta Delgada, um projecto com votação unânime no orçamento participativo municipal, orgulhando qualquer movimento cívico. Há muito que esta área urbana, um ponto simbólico da cidade necessitava de uma intervenção arquitectónica (por aqui morei e também escrevi um texto intitulado "Rua do Colégio: Uma Rua Bonita", publicado na edição do Fazendo nº 104, em Dezembro de 2015). Celebre-se, assim, o findar do espaço rodoviário e de estacionamento e a aquisição de um palco privilegiado para fruição da monumentalidade daquele edifício (esperavam-se,no entanto, mais árvores e mais colorido naquele rectângulo) e ganha-se uma praça destinada a realização de eventos culturais e outros de diversa índole ou simplesmente a mera contemplação da paisagem do jardim e do casario. Haja bom senso e sentido crítico para transformar aquele espaço num lugar significativo e colorido.

O Painel do Gil Eanes ou a "Família Piscatória"?


 
   O Painel do Gil Eanes, intitulado alguns anos mais tarde de “A Família Piscatória”, trata-se de uma encomenda de Henrique Tenreiro, «patrão das pescas», ao pintor micaelense Domingos Rebêlo. Os motivos presentes no painel são referentes à assistência aos pescadores promovida pela Organização Corporativa das Pescas, em que se exaltam as obras sociais do estado: a mútua dos pescadores, a escola, o bairro habitacional, o apoio às crianças e velhice, a construção naval ou o serviço ambulante de venda de peixe. Há também os perigos e aventuras da pesca do bacalhau com a alusão à presença dos icebergs. A principal figura humana, patente num rosto duro e sério, camisa aos quadrados, numa pose “
einsensteiniana”, dizem que é a de Mariano Cafua, pescador de Vila Franca do Campo mas não consta que tenha participado nas campanhas do bacalhau nos mares do norte. E segundo reza a lenda, este era amigo do pintor, tendo servido de modelo para alguns dos seus quadros. Por último, conhecendo a obra de Domingos Rebêlo seria de todo uma injustiça apelidá-lo de “pintor do regime”, o que julgando-o mais próximo da religião e da corrente franciscana, o pudéssemos, com mais confiança, denominá-lo de “pintor místico”.

O Ponto de Vista

          "Quantos beijos existem? O beijo é a coisa mais vulgar, já vimos milhares de beijos. Se virmos aquela cena do Tarkovski, vemos que ali não é o beijo que é novo, é o ponto de vista em relação ao beijo."
Gonçalo M. Tavares