revolvo-me em ânsias de vir a ser alguma coisa pra cá dos cérebros parvamente adormecidos em não querer ser vácuo vontade e ainda pra cá dos espíritos grandemente iluminados em redenção apoteótica do século vinte.
pirâmides-Nada esfíngicas e espumantes são hoje para mim pesadelo constante acordar tarde invadido em vago receio espectral e histérico de não triunfar de não vir a ser aquilo onde se resume toda a minha ânsia todo o trabalho positivo do meu ser lúcido que vive agora pra cá do outro romanticismo-parvo falta vontade de ser morto felizmente na minha vida.
no dens´umbroso deserto de desilusões com ventos alíseos de Tédio com dunas de desespero e caravanas de desiludidos achei um oásis de luz minh ´alma esguiando-se para o infinito lambem-me as faces contraídas em rictus féericos de terror enroscando-se por mim arquejante de ânsias com ondulações voluptuosas de sereias as labaredas de todos os incêndios há séculos pra dentro da história e acesos hoje à minha louca imaginação absurda e ansiosa no rodopiar dos meus pensamentos em velocidade genial muito maior que a da hélice de qualquer aeroplano muitíssimo maior que qualquer velocidade positiva existente no estado actual civilização incompleta do mundo dos grandes inventos infinitamente pequenos à vista dos que falta inventar tantos e tão grande que o nosso pensamento não atinge dado o limite parvo balisa de ferro que o restringe em opacidade banal. "
Almada Negreiros, Poesia Futurista Portuguesa (Faro 1916-1917), Selecção e Prefácio de Nuno Júdice.