domingo, 15 de janeiro de 2017

Ânsia de Ser

       revolvo-me em ânsias de vir a ser alguma coisa pra cá dos cérebros parvamente adormecidos em não querer ser vácuo vontade e ainda pra cá dos espíritos grandemente iluminados em redenção apoteótica do século vinte.
     pirâmides-Nada esfíngicas e espumantes são hoje para mim pesadelo constante  acordar tarde invadido em vago receio espectral e histérico de não triunfar de não vir a ser aquilo onde se resume toda a minha ânsia todo o trabalho positivo do meu ser lúcido que vive agora pra cá do outro romanticismo-parvo falta vontade de ser morto felizmente na minha vida.

no dens´umbroso deserto de desilusões com ventos alíseos de Tédio com dunas de desespero e caravanas  de desiludidos achei um oásis  de luz minh ´alma esguiando-se para o infinito lambem-me as faces contraídas em rictus  féericos de terror enroscando-se por mim arquejante de ânsias com ondulações voluptuosas de sereias as labaredas  de todos os incêndios há séculos pra dentro da história e acesos hoje à minha louca imaginação absurda e ansiosa no rodopiar dos meus pensamentos em velocidade  genial muito maior que a da hélice  de qualquer  aeroplano muitíssimo maior que qualquer  velocidade positiva existente no estado actual civilização incompleta do mundo dos grandes  inventos infinitamente pequenos à vista dos que falta  inventar tantos e tão grande que o nosso pensamento não atinge  dado o limite  parvo balisa de ferro que o restringe em opacidade banal. "

Almada Negreiros, Poesia Futurista Portuguesa (Faro  1916-1917), Selecção e Prefácio de Nuno Júdice.

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