São
precisas três horas para chegar à casa de sempre. É aqui que se impõem os velhos
hábitos e refeições a horas certas. Felizmente, a presença os alimentos de
terras de cultivo ali próximas tal como o concentrado de ómega-3 no peixe local
que, passado tanto tempo, continuam imponentes à mesa. Pelo meio do périplo familiar,
ruma-se a Braga e ao Porto que parecem agora despertar de um longo Inverno,
evidenciando já os habituais tons luminosos do estio e alimentando as peripécias e belezas monumentais de outrora. Estamos, assim, no Verão e as ruas de ambas as cidades
nortenhas estão novamente cheias de turistas com línguas, trejeitos e modos de
estar e sentir diferentes. Os forasteiros, em férias, regressam ao país da boa
comida, do mar e do sol. Há, subitamente, peças de teatro e filmes para ver.
Comecemos pelo Teatro Carlos Alberto com a peça “Act of Cod”, pela companhia de
Dança e Teatro da Esquiva, numa celebração coreográfica à epopeia da pesca do
bacalhau. Ainda na cidade Invicta, o Cinema Trindade mantém uma programação
cinematográfica diversificada e eclética com algumas sessões a pertencerem aos
clássicos italianos – “Milagre em Milão” e “Ladrão de Bicicletas” de Vitorio de
Sica ou “A Rapariga da Mala” de Valerio Zurlini. No entanto, a escolha recai
sobre “A Voz Humana”, do cineasta madrileno Pedro Almodôvar. O filme parte do
texto e ideia original de Jean Cocteau, embora modificado, realçando a força do
monólogo e estilo da actriz, Tilda Swinton. Este é o primeiro filme de
Almodovar em inglês, que vive sobretudo do seu cenário teatral e da estética dita
“almodovariana”, com as habituais cores quentes e garridas, numa volúpia
policromática. Entretanto, há outros filmes vistos em cineclubes das cidades
limítrofes para ver e que deste modo também renascem neste período estival com sessões em sala e
com horários curiosos. Em primeiro lugar, "Las Niñas”, de Pilar Palomero, no
Cineclube Octopus, no renovado Cineteatro Garrett. É uma história que nos mete
pela infância e adolescência adentro, sendo um mergulho nesses dias de
puberdade e dores de crescimento, ainda que repleto de lugares-comuns. Seguiu-se “Marighella”, de Wagner Moura, documento militante sobre os tempos dramáticos da
ditadura militar brasileira, que viria a durar cerca de vinte e um anos (1961-!984). Na tela esteve exposto esse tempo de
terrores e excessos, politicamente intensos e visíveis nos intérpretes e rostos políticos
da altura, marcados pela violência e privação de liberdades e da democracia. Oriundo do Brasil, houve também tempo para assistir, na Solar Arte Galeria Cinemática, em Vila do Conde, o documentário "Onde Está
Você, João Gilberto?”, de Georges Gachot, filme em que o próprio autor decide ir ao encontro do criador da bossa nova, João
Gilberto, mas em que sabíamos de antemão que isso não iria acontecer ainda que a expectativa e curiosidade estivesse sempre latente. Um belíssimo filme carregado de boas memórias e deliciosas
temperaturas musicais transatlânticas.
Por fim, “Sweet Thing”, de Alexandre Rockweel, que retrata o universo de três crianças à deriva num mundo em que os adultos se omitem da educação dos mais novos envolvidos que estão nos seus dramas e frustrações pessoais. Um périplo à infância que valeu essencialmente pela inesquecível banda sonora. E, talvez por isso, num verão que se pretendia renascido...teremos sempre o Norte!
Por fim, “Sweet Thing”, de Alexandre Rockweel, que retrata o universo de três crianças à deriva num mundo em que os adultos se omitem da educação dos mais novos envolvidos que estão nos seus dramas e frustrações pessoais. Um périplo à infância que valeu essencialmente pela inesquecível banda sonora. E, talvez por isso, num verão que se pretendia renascido...teremos sempre o Norte!