Fotografia Germana Eiriz |
De cabeça e corpo na brecha que dá para a cidade
insular e, como tal, não há qualquer regresso possível às ruas da infância onde,
por sinal, ainda há quem nos aguarde. A luz do tempo é serena. A acritude foi substituída pela
esperança e, talvez por isso, é como se nunca tivesse havido partida para longe
ou para sítio algum. A haver errância seria de resignação e permanência. O olhar
pousa agora sobre o cinza da paisagem e dos telhados citadinos. Desta feita são as
memórias que evitam que o desencanto se instale. Parte-se assim pelo interior dos dias adentro até à indagação de cantos e vozes deste tempo confuso, difuso, repleto de
oportunidades por cumprir. Outro tempo é também enviado pelo Alexandre, exímio
guitarrista, que aprendi ouvir desde muito cedo, revelador de trilhos e veredas, que
nos esclarece em suplemento de espectáculos as vias com que agora se cose
as malhas da sua criação: “Quanto mais
avançamos no tempo, mais recuamos também, porque conseguimos ler melhor,
descobrir mais informação sobre as coisas que já passaram há muito tempo, como
se elas ficassem mais próximas.” Exagera-se, é certo, e assim talvez se acredite que é fora
de portas que escutamos o clamor do mundo, que pressentimos esse coro inquieto
de um universo criativo partilhado.
Em suma, prometemos não recalcitrar do estado
das coisas, incutiremos loas à encantadora noite de sons e luzes que se avizinha. Promete-se ligar os sentidos, todos sem excepção. Respiraremos mornas, prolongando sabor de cocadas e o verter do "quentão" e do "grogue" num
auditório com nome de excelso poeta quinhentista. É testamento e herança de uma cultura
que se vive de forma misturada, alegre, intensa. A cidade, essa, vai descendo o seu cenário até
ao mar. E anoitece...