sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Uma Janela para o Fim de Novembro

Fotografia Germana Eiriz
         De cabeça e corpo na brecha que dá para a cidade insular e, como tal, não há qualquer regresso possível às ruas da infância onde, por sinal, ainda há quem nos aguarde. A luz do tempo é serena. A acritude foi substituída pela esperança e, talvez por isso, é como se nunca tivesse havido partida para longe ou para sítio algum. A haver errância seria de resignação e permanência. O olhar pousa agora sobre o cinza da paisagem e dos telhados citadinos. Desta feita são as memórias que evitam que o desencanto se instale. Parte-se assim pelo interior dos dias adentro até à indagação de cantos e vozes deste tempo confuso, difuso, repleto de oportunidades por cumprir. Outro tempo é também  enviado pelo Alexandre, exímio guitarrista, que aprendi ouvir desde muito cedo, revelador de trilhos e veredas, que nos esclarece em suplemento de espectáculos  as vias com que agora se cose as malhas da sua criação: “Quanto mais avançamos no tempo, mais recuamos também, porque conseguimos ler melhor, descobrir mais informação sobre as coisas que já passaram há muito tempo, como se elas ficassem mais próximas.” Exagera-se, é certo, e assim talvez se acredite que é fora de portas que escutamos o clamor do mundo, que pressentimos esse coro inquieto de um universo criativo partilhado.
             Em suma, prometemos não recalcitrar do estado das coisas, incutiremos loas à encantadora  noite de sons e luzes que se avizinha. Promete-se ligar os sentidos, todos sem excepção. Respiraremos  mornas, prolongando sabor de cocadas e o verter do "quentão" e do "grogue" num auditório com nome de excelso poeta quinhentista. É testamento e herança de uma cultura que  se vive de forma misturada, alegre, intensa. A cidade, essa, vai descendo o seu cenário até ao mar. E anoitece...