O que agradece que na terra haja
música.
O que descobre com prazer uma
etimologia.
Dois empregados que num café do Sul
jogam um xadrez silencioso.
O ceramista que premedita uma cor e
uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página,
que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que leem os
tercetos finais de um canto.
O que acarinha um animal
adormecido.
O que justifica ou quer justificar
um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja
Stevenson.
O que prefere que os outros tenham
razão.
Estas pessoas, que se ignoram,
estão a salvar o mundo.
Jorge Luís Borges, Tradução Fernando Pinto do Amaral, in "Ler", nº153.