Está
disponível na RTP Play e é uma das continuadas surpresas que nos chega de um
país com uma longa tradição cinematográfica: a Polónia. Ida" (2013) pertence ao realizador polaco Pawel
Pawlikowski, actualmente com 64 anos de idade, e contou com o argumento de
Rebecca Lenkiewicz. Após conhecimento do nome do realizador, havia, então, o
risco da desilusão depois de saber da autoria do belíssimo, para não dizer
magnífico filme, “Cold War”, de 2018.
"Ida"
conta a história de uma jovem freira que é aconselhada no convento a visitar a
família antes de fazer os respectivos votos. Ao descobrir que é de origem
judaica, Ida (Agata Trzebuchowska) decide partir com a sua tia, Wanda Gruz
(Agata Kulesza), em busca das suas raízes pessoais. A partir daqui é todo um
mundo novo que se revela e desvela à sua frente. O ambiente claustrofóbico é
facilmente reconhecível nos edifícios, carros, cidades e paisagens presentes no
cenário desse período da Polónia do pós-guerra. Quem viajou nos anos noventa pelo Leste europeu, após a queda do muro de Berlim, já tinha visto certamente "A Insustentável
Leveza do Ser"(1987), de Philip Kaufman, e, também este, um filme impregnado
de fotografia a preto e branco, assente numa narrativa amorosa e de melancolia amarga
desse período pesado associado ao fracasso do socialismo real. São imagens
fortes marcadas pela nostalgia e pequenas libertações desses momentos repressivos,
pontuados aqui e ali por momentos de esperança que viriam a resultar em "democracias" que viriam a afirmar-se promissoras neste novo contexto político europeu.
Ida” é, sem dúvida, uma obra de grande intensidade, com a presença e atmosfera do jazz daquele período, por isso há aqui uma espécie improviso interior. Esta explosão da tensão só damos conta no fim do filme, dado que de tanto segura e serena é a personagem que decide implodir no seu caminhar em frente. O que morre em nós quando queremos saber a verdade do que fomos? Porque é que nos deixaram viver quando a obrigação era ter ficado sepultada naquele buraco?, perguntamos nós!
De qualquer forma, passados estes anos todos do fim do bloco de leste, este
cinema parece surgir fora do tempo, sem lugar, ainda que carregue dentro de si uma pulsão e nervo que impressiona pela força das suas imagens e rostos. Curiosamente o filme ganhou vários prémios: óscar para melhor filme estrangeiro
em Hollywood, melhor filme para a Academia de Cinema Europeu e melhor filme
para a Academia Polaca de Cinema. Merecidos, evidentemente.