"Varadouro", de Paulo Abreu e João da Ponte |
Quem
viu o documentário “Adormecido” de 2012 - interessante e exaltante poema visual e
sonoro à volta do vulcão dos capelinhos – sabia de antemão que alguma coisa de
maior poderia estar em germinação. Por isso, assistir à sessão inicial de
Novembro do cineclube de Ponta Delgada e, concretamente à apresentação pública
de “Varadouro”, só podia confirmar os melhores augúrios.
“Varadouro” é
o segundo filme de Paulo Abreu filmado em solo açoriano e novamente na Ilha do
Faial, revelando desta feita uma descomunal sensibilidade na captação da pulcritude
dos espaços insulares e dos sons da “natureza extrema” que habitam esta ilha e de que o
arquipélago é pródigo. É claro que muitas das instigantes soluções
videográficas do “Brel nos Açores”, espectáculo de Nuno Costa Santos,
pertenciam já a Paulo Abreu, confirmando assim o seu sentido estético e
desalmado gosto pela experimentação, para lá do risco que as paisagens e os
barulhos insulares lhe sugerem. Este documento fílmico apresenta somente
dez minutos de contemplação dessa piscina natural, desde o azul do atlântico
até às suas profundezas, e, na verdade, é como se estivéssemos deleitados na capital
de veraneio faialense, em plena costa ocidental, acompanhados por ilhéus a
banhos, numa paisagem formada por rochas basálticas de lava incandescente e a
memória de forasteiros de relevo que por ali passaram (Jacques Brel esteve lá
em 1974, ou ainda sir Peter Ustinov e o escritor Mark Twain), acrescentando-lhe narrativas e ensejos pícaros com essa evocação. No fundo, tal como eles, é fácil
deixar-se encantar por aquela fajã de clima ameno, quase tropical e dada a
novos arrastamentos, à semelhança da vida do caracol, o popular tema musical açoriano cantado
aqui pela excelsa voz do terceirense Carlinhos Medeiros. Este objecto cinematográfico contou
ainda com a colaboração na realização de João da Ponte, conhecido cineclubista
micaelense, tratando-se dum contributo desta dupla para o Doc´s Kigdom, seminário
internacional sobre cinema documental realizado recentemente na Ilha do Faial. Por fim, “Varadouro”
obteve os contributos solares e presenças mitológicas de Norberto Serpa, Tiago
Afonso, Maria Emanuel Albergaria, Frederico Lobo, André Laranjinha, Sérgio Gregório, João Pedro
Gomes, Tomás Melo e Aurora Ribeiro. E é bem provável que, com a ajuda dos
cineclubes, este postal do estio com sabor a documentário, seja exibido numa sala bem perto de si.
falta referir nas "colaborações" a do Frederico Lobo.
ResponderEliminaragora já não falta...
ResponderEliminaro Adormecido foi rodado em 2011 mas apresentado em 2012.
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