“Corre,
Emanuel, Corre” é, em primeiro lugar, um filme de alguém que se expõe não do
ponto de vista biográfico mas sim a partir de uma perspectiva artística comprometida e
vigilante face ao desenrolar da vida individual, social e das cidades. E que
para isso são necessários sentidos sintonizados com a natureza circundante, antenas
atentas que estão no centro da existência onde é essencial ver, ouvir, tocar,
sentir, gostar e em que nada, nada mesmo nos é passivo ou indiferente. Aqui, Maria Emanuel Albergaria, cidadã e antropóloga, permite que a câmara capte o
seu mundo e aí instale uma visão muito pessoal e criativa do seu ideário
estético. A partir de várias fotografias obtidas na ilha de São Jorge,
constrói-se um programa de registar esse processo interno de bloqueio/libertação vivencial e onde está presente a floresta/natureza como elemento de inquietação/pacificação
e do qual este trabalho é processo ou resultado final.
Fotograma de "Corre, Emanuel, Corre" |
Inspirado na
exposição/instalação "Uma Casa na Floresta”, o projecto documental nasce
dessa pulsão de registar o que foi a superação desses bloqueios interiores,
acompanhando esse desejo adulto e fermentado de regressar a um olhar pueril e
inocente, ultrapassando as barreiras exteriores convertidas em muros, cancelas,
troncos de árvores em forma de metáfora. Daí o regressar às nossas porosidades
e sensações mais íntimas e primárias, às memórias mais longevas e fecundas num
universo poluído de simulacros e proliferação abundante de imagens, carregado que está de confusão e ruído
e onde é já quase impossível pensar e sentir. A realização da exposição/instalação
numa casa bem citadina, por sinal desabitada, coloca também uma interpelação ao
nosso desapego pelo que ficou de vida e memória nesses centros desabitados, inquirindo
até que ponto ganhamos com prédios incaracterísticos na periferia das nossas
cidades quando a arquitectura por ali carece de ser (re) construída.
Por fim, destaque-se
ainda a fulgurante entrada musical deste documentário, sendo o som um elemento
primordial ao longo destes quinze minutos, muito devido ao contrabaixo de
Gianna de Toni e da viola de Arco de Ernesto Rodrigues, anunciando deste modo que
estamos perante um trabalho colectivo de invulgar empatia entre os envolvidos, resolvida
que ficou a partilha de autoria entre Emanuel Macedo e Bruno Correia, num
trabalho bastante cuidado e justo face ao enquadramento dos sons com os diferentes registos de imagens,
para além do movimentado vídeo de João Pedro Plácido e André Laranjinha. Este filme foi produzido pela "Tripolar" com o 9500 Cineclube, a Cresaçor e a RTP-Açores como Produtores Associados e recebeu o Prémio do Público
no Faial Fim Fest 2011.
Este filme foi produzido pela "Tripolar" com o 9500 Cineclube, a Cresaçor e a RTP-Açores como Produtores Associados.
ResponderEliminarlink no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=oIDCYGdTbSg
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