segunda-feira, 28 de março de 2022

Dois Poemas de Naná da Ribeira

 Raízes

Os pés sobre as raízes
As raízes sustentam as árvores
O teu rosto repousa como um ramo
À beira-mar com o rumor da noite
Esqueço a sombra dos gestos deixados lá atrás
O tempo crepita nos relógios sem mácula ou vagar
Este frémito que invadiu a casa em silêncio
A dança dos meus braços em chamas
O verbo aguenta a lembrança deste instante
Dormindo, por fim, sossegado junto ao rochedo

Sorte

Quanto tempo nos resta para abraçar a noite?

Contar horas até ao deslindar da sorte
É certo que habitamos o temor e o fiasco
Somos portadores de uma ternura antiga
Escondemos a dor do destino que já foi
E transformamos em volúpia e aventura 
Esse fogo que nos contempla ao longe