terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Imperfeição da Filosofia

         “Há uma grande diferença entre aprender, emagrecer, curar-se, edificar, caminhar e ver, ajuizar, compreender, viver, ser feliz. Há alguma coisa nessa actividade, que é o filosofar, que tem alguma afinidade com caminhar, aprender, curar-se, no sentido em que, efectivamente, é mais pela indeterminação do lugar onde se quer chegar, mais pela impossibilidade de traçar um limite preciso do que pela clara realização da actividade enquanto fim, que aceitamos que filosofar seja como viver ou ser feliz. E isso vê-se no nome Filosofia: amor, uma dedicação e cuidar do que é justo, do que é bom e verdadeiro, da sabedoria, aparecendo o fim da Filosofia aos olhos de Platão como nunca detido: o filósofo não é sábio, está a dois pontos afastado da sabedoria.
          Pois aquele que ama está num embaraço, não sabe o que faz, anda à procura. Não é esta a maneira menos decisiva de justificar a natureza incompleta da Filosofia – termo cujo significado nunca se fixou definitivamente - tarefa intrigante, que leva de cada vez a cabo uma inquirição de identidade, desde sempre grande motivo de escárnio de escândalo. Com efeito, só se pode amar aquilo que não se possui. A imoderação própria da actividade filosófica tem que ver com a natureza do amor.”

in  A Imperfeição da Filosofia, Maria Filomena Molder, Lisboa, Relógio d´Água, 2003.

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