“Há uma grande diferença entre aprender, emagrecer, curar-se, edificar,
caminhar e ver, ajuizar, compreender, viver, ser feliz. Há alguma coisa nessa
actividade, que é o filosofar, que tem alguma afinidade com caminhar, aprender,
curar-se, no sentido em que, efectivamente, é mais pela indeterminação do lugar
onde se quer chegar, mais pela impossibilidade de traçar um limite preciso do
que pela clara realização da actividade enquanto fim, que aceitamos que
filosofar seja como viver ou ser feliz. E isso vê-se no nome Filosofia:
amor, uma dedicação e cuidar do que é justo, do que é bom e verdadeiro, da
sabedoria, aparecendo o fim da Filosofia aos olhos de Platão como nunca detido:
o filósofo não é sábio, está a dois pontos afastado da sabedoria.
Pois aquele que ama está num embaraço, não
sabe o que faz, anda à procura. Não é esta a maneira menos decisiva de
justificar a natureza incompleta da Filosofia – termo cujo significado nunca se
fixou definitivamente - tarefa intrigante, que leva de cada vez a cabo uma
inquirição de identidade, desde sempre grande motivo de escárnio de escândalo.
Com efeito, só se pode amar aquilo que não se possui. A imoderação própria da
actividade filosófica tem que ver com a natureza do amor.”
in A Imperfeição da Filosofia, Maria Filomena Molder, Lisboa,
Relógio d´Água, 2003.
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