POÉTICA
Nada digo por hábito
tudo de novo vem de ti
nasce de novo
Nada digo de novo
sobrevoo
o deserto movente das palavras
em busca de um sinal
exacto e comovente do teu corpo
SINAL
Ergo nas mãos em concha
uma lembrança de água
oh presença subtil no deserto de um livro
a que uma folha dura
E que frágeis os trincos da memória
do que era teu e meu
a invisível tesoura
com que cortar os sonhos pela cintura
TRISTES NAVIOS QUE PASSAM
Tristes navios que passam
na hora da nossa vida
na hora da nossa morte
escuros vasos de guerra
cargueiros tanques paquetes
brancos navios de vela
levam óleo levam ódio
luxo lixo das cidades
levam gente gente gente
deixam ficar nostalgia
tristes navios que passam
na hora da nossa morte
na hora da nossa vida
Emanuel Félix (Angra do Heroísmo 1936 –2004)
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