terça-feira, 16 de julho de 2013

Três Poemas de Emanuel Félix

POÉTICA

Nada digo por hábito
tudo de novo vem de ti
nasce de novo

Nada digo de novo
sobrevoo
o deserto movente das palavras
em busca de um sinal
exacto e comovente do teu corpo

SINAL

Ergo nas mãos em concha
uma lembrança de água
oh presença subtil no deserto de um livro
a que uma folha dura

E que frágeis os trincos da memória
do que era teu e meu
a invisível tesoura
com que cortar os sonhos pela cintura

TRISTES NAVIOS QUE PASSAM

Tristes navios que passam
na hora da nossa vida
na hora da nossa morte

escuros vasos de guerra
cargueiros tanques paquetes
brancos navios de vela

levam óleo levam ódio
luxo lixo das cidades
levam gente gente gente

deixam ficar nostalgia

tristes navios que passam
na hora da nossa morte
na hora da nossa vida



Emanuel Félix (Angra do Heroísmo 1936 –2004) 

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