Fotografia de Alexandre Delgado O´Neill |
"Quando conheci o Alexandre na Rua
da Saudade em sua casa, ele ia jantar. Eu reparei que ele tinha posto a mesa
com tudo elegante para si próprio. Ele tinha preparado um jantar com uma lata
de sardinhas dentro do prato. Levantou-se, cumprimentou-me e disse-me: “Sente-se, quer comer umas sardinhas
decapitadas?”. Às vezes com
uma primeira fase pode-se perceber uma pessoa. Eu e o Alexandre ficámos amigos
a partir daquela frase. O que eu gostava no Alexandre era a extrema liberdade
intelectual que ele tinha. Liberdade intelectual e humana. E o gosto de viver.
O amor pela vida, pela vida nas suas várias manifestações. E também uma grande
capacidade de defender, digamos assim, este seu amor pela vida, com uma
aparente ferocidade que, por vezes, traduzia-se naquele tom de escárnio que,
aliás, faz o sal da poesia dele mas que no fundo é mais uma defesa do que
realmente uma excelência. Quer dizer o Alexandre, no fundo, era uma pessoa
extremamente sentimental, até muito sentimental, que defendia a sua
sentimentalidade com uma carapaça que ele próprio e a vida lhe tinha ensinado a
elaborar."
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