sábado, 11 de janeiro de 2014

Vânia Dilac: Cantora ou Diva?

         Vânia Dilac é diva das cantigas e das antigas pois tem o dom e a dádiva de encantar para quem tiver intenções de se deixar render e cativar pelo seu canto. Esta é, sem qualquer dúvida, uma voz desmedida, solta, com rédea livre de quem sabe que nada nem ninguém  pode travar aquele curso de águas cálidas que na sua voz habita na máxima energia e vitalidade. Por isso não lhe peçam grandes teorizações sobre os seus temas que interpreta – apenas que cante no auge da sua sinceridade vocal. Por mais que ela enfeitice com a sua voz este centro histórico da cidade de Ponta Delgada, em plena Travessa dos Artistas, com música sem muros nem ameias e, essencialmente, com o fervilhar da interpretação de temas de outros autores:“Blue Moon” de Frank Sinatra, “Fever”, de Peggy Lee, “Summertime”, de George Gershwin, “Sodade” de Cesária Évora ou “Halleluyah” de Leonard Cohen, é nos temas cantados em português que este ardente canto em tons de veludo ganha velocidade, espessura  e rumo. Acompanhada por Paulão (bateria) e Clayton (teclados) é, portanto, uma voz que propaga com rapidez  calor e chama neste Inverno frio e húmido. Ouvi-la a cantar Amália Rodrigues (“Barco Negro”), Paulo de Carvalho (“Mãe Negra”) ou Jorge Palma (“Frágil”) é acreditar que há um vulcão interior em ebulição pronto a expelir sons e trovas carregado dum eco feminino dolente e magoado, profundamente negro como a maioria das vozes da soul, a carimbar o timbre da sua alma africana. É de arrepiar quando  eleva a sua voz nas canções de Amália ou Jorge Palma,  naquele português misturado, modelado e mélico para de imediato lhe sentirmos a garra,  o enleio sonoro, o sentimento pujante em cada frase melódica. Uma pérola, evidentemente.
         Escutar Vânia Dilac é também um privilégio por podermos imaginar o quanto estará por vir já que aqui há qualquer coisa de vidro fino, delicado, um diamante em bruto por lapidar, e que é necessário preservar e cuidar enquanto ele irradia de fulgência e de brilho. A cantora  vive em São Miguel, bebe muita música soul e o blues num arquipélago que fica não muito longe do local de origem destes géneros musicais, sendo normal que  almeje voos mais altos ou  deseje cantar em outras paragens, palcos  e destinos. Entrementes, para uma cantora que absorve as águas cálidas da ilha há mais de trinta anos, ela nasceu em Moçambique, bem como sabe de cor e salteado as dores e as mágoas das nossas maiores cantoras que a precederam, bastava que cantasse e fizesse um disco pessoal com uma dezena de poetas ou cantores nesta língua que nos une para firmar e confirmar o seu talento neste tempo e espaço, o emergir de uma grande voz em território insular, tantos anos depois da fase de oiro das vozes femininas de 80/90 da música açoriana.

1 comentário:

  1. Deslumbrei-me e apaixonei-me por este texto, é quase poético...Muito obrigada e espero nunca defraudar tais palavras com rasgos de encantamento!! Bjs Vânia Dilac

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