sexta-feira, 27 de março de 2015

Tochapestana: o passado imita-os!

O último concerto desta primeira edição do Múma-Música em Março foi com o duo Tocha/Pestana. A Associação Cultural Música Vadia, com a co-produção do FAZENDO, despediu-se do festival com um balanço assaz positivo sobre aquilo que se passou nestas últimas quatro semanas. Durante estas sessões musicais na sede do Sporting foi possível assistir a dois concertos de “one man show” e os outros dois por duos musicais, por sinal, dinâmicos e bem divertidos. O público faialense aderiu a esta proposta da Música Vadia e, com maior ou menor afluência, manifestou atitude e curiosidade em participar neste evento. 
O duo Tocha/Pestana deu, portanto, o seu primeiro concerto em território insular, naquele que foi uma autêntica surpresa para o público açoriano que quis estar presente em mais um concerto do Múma, pois nunca se tinha visto nada assim por estas bandas, melhor, provavelmente já vimos mas não queríamos acreditar.
A banda apresentou-se em palco com uma componente visual próxima da feira popular, arraial festivo ou baile nocturno no final de romaria religiosa em dia de santos populares. Tochapestana trouxeram sons e música para um futuro nunca visto, fazendo de súbito uma declaração de interesses ao abrir a performance com a máxima:“o passado imita-nos”. Os músicos estavam, portanto, inquietos para dar o seu show cómico-cósmico, vestidos a rigor, ambos de óculos escuros como quem tinha acabado de sair de um desfile de Entrudo, com uma indumentária justa, a condizer com um cenário algo passadista, pronto para evidenciar uma música eléctrica e dinâmica em universo que de tão próximo, era muito difícil de catalogar.
Deste modo, o duo alinhou, para este seu primeiro concerto em terras açorianas, canções do primeiro álbum -“Música Moderna”, um disco composto por 13 faixas (11 canções e 2 interlúdios), gravado no estúdio “Arroios Music Machine”, entre Outubro e Novembro de 2013 e misturado até Março de 2014. Começaram pelo interlúdio “Balada 24” e de seguida Tocha explodiu de energia com a canção “Gasolina”, cabendo este tema de situar o público no carrossel musical que se seguiria. A estranheza de “Tara” e a vigorosa extravagância sonora de “Lírico” foram suficientes para aquecer e ganhar mais força e simplicidade lírica, alguns momentos depois, com o tema-hino intitulado de “Lisboa”. São raros os casos conhecidos cantados em português que nos remetam de forma tão imediata para um lugar de pertença emocional, como é o caso deste hino à capital portuguesa. Parabéns à dupla por esta canção de amor citadino, que ganharia outra expressão e público com a chegada do tema “Pratica a tua Fé”, já com a assistência rendida e com sinais de arraial montado. Seguiu-se o tema forte “Macho Masoquista”, provocando alguns risos e lágrimas, dado o enfoque na posição do instrumento, retomando o humor e a provocação com uma “canção de intervenção” intitulada “Plástico”, próxima dos manifestos ecologistas contemporâneos. Houve ainda tempo para uma versão do single de 1980 da cantora portuguesa Dina, o “Pássaro Doido”, em plena nostalgia evocativa. Ainda a fechar os sessenta minutos de concerto, tempo para o tema “Baila Comigo”, em refrão romântico e com o cantor no exercício e exaltação da sua própria voz. O público atónito cedia finalmente ao homem e ao seu teclado com guitarra e ia clamando por outro homem e a sua voz. O espectáculo chegaria ao fim, sacudindo por instantes os inúmeros incrédulos que tiveram receio de se entregar a esta música directa, popular e intensa. Para o regresso ao palco, o duo Tochapestana cantou novamente “Pratica a tua Fé”, numa evocação à marinhagem que frequentava o Cais do Sodré sete dias por semana, naquele roteiro de bares com nomes de capitais e países. A dupla regressou, por fim, ao palco para agradecer e despedir-se do público, por sinal, questionando a possibilidade de assistir a novo concerto do duo.
Algumas horas antes, o duo musical explicou que apreciam imenso fazer este tipo de música, próxima do “tudo é possível, nada está excluído”, focados que estão na exibição e transmissão durante o espectáculo de uma determinada energia. Os músicos referiram que não se têm cansado de “tochapestanar” pelo país inteiro, com prestações musicais em discotecas, bailes, colectividades ou agremiações culturais. Sobre a composição dos temas, TochaPestana recorre à guitarra e ao sintetizador, socorrendo-se de uma panóplia variada de beats e efeitos vários, como se pôde ver em “Macho Masoquista”. As letras, muito simples, roçam o minimal e a repetição, sempre apostadas em refrões fáceis ao ouvido e propícias ao trautear de canções em uníssono. Desta feita, não poderia ter sido melhor a escolha deste duo para fechar os concertos deste Múma, apropriado ao espaço do Sporting e proporcionando um serão vivo e alegre, muito por iniciativa e vontade de da interagir com público, preconizado pelo vocalista Tocha.
       Por último, uma nota muito positiva para a Associação Cultural Música Vadia pela iniciativa e pela capacidade organizativa evidenciada. O evento decorreu de forma superlativa, tendo ficado no ar a promessa de uma futura edição, já no próximo ano. Um merecido encómio à direcção do Sporting da Horta que está, também ela, de parabéns pela abertura e disponibilidade por demais demonstrada

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