Um jantar de amigos romanos, propensos a jogos durante o jantar, desencadeou o móbil para este argumento de "Perfetti Sconosciuti"", de Paolo Genovese. À altura, o filme gerou um debate intenso na sociedade italiana sobre o uso e abuso do "celullare". Por aqui, à semelhança de tantos outros temas de cariz contemporâneo, o assunto do filme passou ao lado, talvez a quadra festiva não o permitisse, obnubilados ficamos, assim, de qualquer reflexão ou pensamento que o seu visionamento possa ter sugerido. Não que o cinema deva estar ao serviço de bandeiras ou promover temas ou abordagens com fins imediatos, no entanto seria de bom de tom refletir quando as imagens e os diálogos assim o incitam.
A premissa inicial do filme é muito simples: muita da nossa vida contemporânea está focada nesse objecto aparentemente inofensivo - o telemóvel. Esse aparelho que se tornou "valioso" e, que muitos de nós já não prescindem, é usado, maioritariamente, para atender e receber chamadas, sendo cada vez mais se torna a nossa caixa negra em caso de o perdermos, dado que aí se encontram os nossos segredos e mistérios mais profundos! O ponto alto do filme está, portanto, na exposição dos nossos vícios e virtudes em público, sendo que pouco ou nada há a fazer quando aquilo que não queríamos ver revelado passa a pertencer ao conhecimento e juízos de valor dos outros que nos estão próximos por relações de afecto ou amizade. O que fazer?
Aquilo que torna "Perfeitos Desconhecidos" muito estimulante é sabermos que, com ou sem telemóvel, ninguém está assim tão seguro e permeável à exposição do olhar e julgamento dos outros, o que deixa, no final do seu visionamento, uma sensação de estranha normalidade disfarçada de um intrínseco e profundo mal estar. Afinal, as aparências iludem mesmo!
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