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quinta-feira, 24 de maio de 2018

Última Ciência de Herberto Helder

Ninguém sabe se o vento arrasta a lua ou se a lua
arranca um vento às escuras.
As salas contemplam a noite com uma atenção extasiada.
Fazemos álgebra, música, astronomia,
um mapa
intuitivo do mundo. O sobressalto,
a agonia, às vezes um monstruoso júbilo,
desencadeiam
abruptamente o ritmo.
- Um dedo toca nas têmporas, mergulha tão fundo
que todo o sangue do corpo vem à boca
numa palavra.
E o vento dessa palavra é uma expansão da terra.

Herberto Helder in Ofício Cantante, Poesia Completa, Assírio & Alvim,2009.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Entardecer

de tanto verso, a rua exausta:
leva numa mão migalhas de saudade, na outra a luz abatida
e enquanto uns dedos inventam a cura da ferida
os outros murmuram adeus à aridez da cidade

eu digo: o teu olhar castanho

eu passo sem rima pelo binómio
mágoa e amor pesam em cada um dos braços
o meu coração sustentáculo dança e imperioso
faz-me do corpo imprecisa balança

eu digo: o teu olhar castanho nebuloso
perdido ao fundo dos teus olhos

eu sigo sem equilíbrio, sem sossego, sem nada
só frémito, o medo de escolher a mão fechada
mover o músculo errático e ficar sem fim
na amargura que dos teus olhos desagua em mim

Dulce Cruz

domingo, 12 de janeiro de 2014