A faca que corta dá golpe sem dor…descobrir prováveis hipóteses e
mesmo assim não detectar seja o que for. Ter o receptor pronto, iniciar o caminho das trevas, mover todos os propósitos e nada alcançar. Ter a
sensibilidade pronta para captar a mais provável das suspeitas e admitir que o
que vier a seguir é uma mera possibilidade. Esta é a circunstância de nada
conseguir saber, ter a cabeça a prémio, juntar peça por peça e lentamente
desconfiar do que foi feito. Vivemos ambos sobre ruínas e em breve também este
tempo findará. Por isso há cada vez mais desmoronamentos, sobressaltos, mais
devastação em redor. Reconhecemo-nos, no entanto, nessa dimensão da esperança, a tensão do encontro, a surpresa da coincidência ou da pulcritude simples. Convém, portanto, manter
a curiosidade, a leveza e o desapego, desprovidos de cobiças e apegos vãos. Se
no final de um dia, soubermos pronunciar as palavras que em nós pulsam com maior
veemência, talvez encontremos aquilo que nos descerra e nos prende, aquilo que
nos liga e deslaça, aquilo nos dá vida e nos mata.
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