Passavam entre
seis a oito meses nos mares da Terra Nova, uma boa parte do tempo enfiados em pequenas
dóris, possuíam uma hierarquia a bordo e só comiam carne uma vez por semana,
sendo que nos restantes dias da semana alimentavam-se de bacalhau. Eram, maioritariamente, jovens, sendo certo que a partir dos anos sessenta alguns escapavam/desertavam ao serviço
militar obrigatório, à guerra do Ultramar, deixando para trás filhos e família. Estes pescadores eram
oriundos dos bairros ou ilhas piscatórias das cidades costeiras portuguesas,
pobres, portanto. Houve quem chegasse a fazer dez, ou até mesmo vinte
campanhas, tal como o açoriano de rosto duro e tisnado, que se encontra à frente do quadro “A Família Piscatória”, obra icónica de Domingos Rebêlo. Houve mesmo quem avistasse baleias ao lado dos seus pequenos botes ou quem se tivesse perdido naqueles nevoeiros cerrados junto de icebergs, já para não falar dos que por lá
ficaram esquecidos e enterrados para não corar de vergonha o regime. O Museu Marítimo de Ílhavo tem sido
incansável no resgate dessa memória e dessa incrível epopeia, sendo transversal a
uma boa parte do século vinte português. E, só por isso, aqui ficam estes
parágrafos em forma de evocação e agradecimento.
Imagem do Museu Marítimo de Ílhavo |
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