Duas décadas
depois de ter feito Erasmus na cidade grega de Salónica, regressam agora as
eleições europeias. Hoje, dia da Europa, é verdade que muitos de nós continuamos sem saber
muito bem o que é exactamente a União Europeia.
Naquela
altura, vivia-se um período de desafogo e euforia económica e a Grécia, o berço
da civilização, permitia corroborar que a Europa enquanto conjugação de várias
culturas era per si uma construção
frágil. Não é fácil, por mais que se queira, juntar italianos com suecos,
portugueses com alemães, espanhóis com holandeses, ainda por cima tripulantes da
mesma galera e que a viagem corra às mil maravilhas. No entanto, é possível com
algum sonho e utopia construir uma ideal de democracia que nos permita sair do
ancestral estado bélico e da contínua atracção pela barbárie, bem como montar a
paz por muito tempo e ainda que possamos alargar o campo de possibilidades de
uma sociedade mais justa, democrática e solidária.
Algum tempo depois desse ideal sonhado não há presentemente
muito para celebrar. O desemprego é a face da moeda mais
visível desse desencontro e o medo de viver em democracia
tornou-se uma realidade das sociedades contemporâneas, a acrescentar à contínua anulação
das diferenças e formas de estar de países com fraco poder económico. É tempo, portanto, para evocar a experiência Erasmus e
essa utopia da união das diferenças e de aceitação pelo ritmo e cultura de cada
comunidade e país. Foi assim uma experiência única e vivida de forma intensa e
que foi muito além das trocas universitárias e do programa de estudos aí
existente. Talvez por isso, aprenderam-se línguas, viajou-se bastante dentro e fora do
país em que se esteve, conheceram-se os hábitos e os gostos alimentares de um país
diferente do nosso, contactou-se com a história e a cultura de um outro país bem como
se fizeram amigos e conhecimentos que perdurarão ao longo da vida. Uma coisa
é possível garantir: o melhor da União Europeia passou por aquele
projecto em construção e pela sua ideia de miragem sem grandes imposições. O Erasmus era a união das
diferenças e não o domínio e a imposição de uns sobre outros. Ainda restam dúvidas sobre isso?
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