No
“Inverno Quente” deste Agosto chegam boas notícias sobre objetos artísticos que
tem como tema central o mar e os pescadores. Raul Brandão, autor de “Os
Pescadores” e "As Ilhas Desconhecidas”, “pintou” como só ele soube o azul do
atlântico no seu bulício e transformação. O escritor, natural da foz do Douro,
narrou a vida dos homens do mar de norte a sul do país ao mesmo tempo que
descobria as ilhas atlânticas que, aos seus olhos, lhe eram desconhecidas.
Deste
modo, as obras atrás referidas de Raul Brandão serviram de mote e inspiração
para o documentário “Hálito Azul”, realizado por Rodrigo Areias com argumento
de Eduardo Brito, rodado junto da comunidade de pescadores da Ribeira Quente,
Ilha de São Miguel, com estreia marcada nos Açores no dia 20 de Setembro, pelas
21h00, na Igreja daquela freguesia. Recorde-se que o filme teve uma primeira
exibição no Festival de Locarno, na Suíça, tendo sido a sua primeira
apresentação pública na edição do festival Porto/Post/Doc em Novembro último,
seguindo-se vária exibições em concurso dos mais diversos festivais, onde
obteve aí dois curiosos prémios: Prémio Especial do Júri (Ismaília Film Festival, no Egipto) e o Prémio Melhor Documentário (Pristina
Film Festival, no Kosovo).
Atente-se,
assim, a outro projecto relacionado com mar, as ilhas e os pescadores,
denominado de “Atlântico”, pertença do artista multimédia, Helder Luís,
actualmente em residência artística na cidade de Póvoa de Varzim. O resultado deste labor documental surge no
seguimento da instalação MAR que esteve em Serralves e que dará lugar à publicação de vários livros e demais exposições. Actualmente encontra-se em exibição "Atlântico", numa das salas do museu municipal, um conjunto de fotografias e vídeo que documentam uma viagem começou na
Póvoa de Varzim e terminou em Ponta Delgada, tendo depois existido uma outra saída
para a pesca. Helder Luís acompanhou a tripulação da embarcação açoriana “Íris
do Mar”, documentando a actividade piscatória nos seus gestos, vivência e modos, servindo-se
da fotografia, do vídeo e ainda da música. Desta feita, “Atlântico” evidencia uma
vontade de dar a conhecer as artes de pesca praticadas no arquipélago,
registando a energia e a vitalidade da força de trabalho de um grupo de
pescadores, curiosamente oriundos de diferentes comunidades e nacionalidades,
reflexo de um mundo laboral em transformação.
Celebre-se,
pois, quase um século depois da publicação destas duas obras de Raul Brandão, o empenho e esforço dos criativos portugueses em colocar a centelha piscatória e
do mar na ordem do dia, atribuindo o destaque e atenção mais do que merecidas.
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