O
cinema europeu continua a obter a visibilidade e atenção necessárias junto das
sessões dos cineclubes, e são muitos os que insistem em manter uma programação
activa durante os meses de estio. O Cineclube Octopus, com lugar na Póvoa de
Varzim, mantém a sua actividade há trinta e seis anos de forma consecutiva, uma
vez por semana, junta os seus sócios e espectadores que dessa forma participam
nas sessões, encontrando-se este num momento de grande entusiasmo e aposta na diversidade e interesse pela sétima arte.
A
primeira sessão, a que tive oportunidade de assistir, deu-se com um filme
francês “Os Combatentes”, primeira obra do realizador Thomas Cailley, numa
sessão ao ar livre. O filme retrata a vida de um par de jovens, a luta pela chegada
à idade adulta, o questionar das convenções sociais, o problema da natureza
humana com as óbvias dificuldades de comunicação, sob o pano de fundo de uma
paixão entre o casal de protagonistas.
Seguiu-se depois “A Face”, de Malgorzata
Szumowska, uma narrativa que pretende retratar o momento actual da sociedade
polaca contemporânea, sobretudo o espaço onde esta se revela mais conservadora,
xenófoba e contraditória. O filme levanta questões profundas sobre a diferença
e aceitação, revelando desequilíbrios nas representações, mas com uma
vitalidade e ousadia sempre presentes. Depois,
houve o “momento Jarmusch”, com o
filme “Os Mortos Não Morrem”, um cineasta que parece viver um momento de
redefinição cinematográfica, já que parecia resolvido a comemorar a vida, pois
a longa metragem gira em torno de mortos que retomam à vida com as suas antigas
paixões, errando pela pequena cidade, sendo que a partir de determinado momento,
à semelhança dos navios sem rumo, somos invadidos pelo cansaço e excessos da
falta de originalidade, redimindo-se com a narração soberba da voz de Tom Waits.
Por outras razões e noutra sessão de Agosto, assistiu-se à longa-metragem
“Culpado”, de Gustav Möller, um triller
psicológico sobre um polícia suspenso, agora confinado a um departamento onde recebe
chamadas de emergência, lutando assim consigo próprio e a culpa de um crime, numa
narrativa que dá forte presença ao corpo e à inquietação deste, como se
estivesse encurralado e nós com ele. Por esse motivo, vemos a angustia do
personagem que não se sente nada bem no novo lugar que ocupa, espreitamos a fragilidade
humana, pressentimos ali o triz do precipício, numa descida aos infernos
travada pelo instante final da redenção. Tanto alarido sobre as fragilidades da
narrativa que já se ouve falar de remake em versão hollywoodesca. Curioso, não
é?
Fora
da actividade cineclubística, houve tempo também para ver o filme “Variações”
que já que é um sucesso enorme de bilheteira nacional, permanecendo há várias
semanas nas salas, batendo recordes de assistências. Trata-se de uma
biografia musical, sendo aqui o registo cinematográfico de importância documental,
ao mesmo tempo que comporta uma dimensão de sonho que agarra o espectador de
principio até ao fim, desperta ainda o ensejo necessário de qualquer jovem
nascido num lugar pequeno a partir e a conhecer outras realidades diferentes da
sua. “Variações” tem esse condão de apelar a não ficarmos circunscritos às
circunstâncias e aos limites, obriga-nos a olhar o exemplo de alguém que
arriscou sair, lutou pelos seus sonhos e anseios, lançou-se em horizontes alargados.
Venceu? O importante era atingir o seu sonho. E que belíssima interpretação de
Sérgio Praia na personagem de António Variações.
Assim,
aproveitou-se da melhor maneira o momento estival para ver diferentes
cinematografias oriundas do continente europeu que, ao contrário do que se
papagueia por aí, continua vivo e atinente no que toca à sétima arte.
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