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quinta-feira, 28 de maio de 2020

"Western": um filme de Valeska Grisebach

"Western" é um filme da cineasta Valeska Grisebach, com ligações à Escola de Cinema de Berlim. É evidente que o título remete para o género cinematográfico do velho oeste americano mas o cenário passa-se nas fronteiras do continente europeu. 
Esta longa metragem de 2017 viria a obter uma boa recepção pela crítica cinematográfica. "Western" mostra a história de um grupo de trabalhadores alemães que é incumbido de construir uma central hidroeléctrica numa aldeia da Bulgária. À parte as dificuldades linguísticas entre o grupo e os habitantes locais, há aqui também questões de percepção e representações que ganham contornos antagónicos. Nesse grupo hierárquico bem definido encontra-se Meinhard (Meinhard Neumann), que irá ser o personagem central deste drama sem tragédia, ora por ser ele quem se avizinha da pequena comunidade ou porque cedo constatamos que, também ele, é vítima de preconceito e marginalização. Ele demonstra que por vezes nem é necessário criar muitas ondas ou tão pouco ser muito exuberante para sentir na pele a rejeição e o desapego do grupo. O momento final em que este dança com a comunidade local é uma revelação do princípio libertador da abertura ao outro. Só quem é poroso pode ser fecundo!   

domingo, 5 de abril de 2020

“Cafarnaum”: O Mundo pelo Olhar de Zein


Cafarnaum”, que significa caos ou lugar de turbulência, é um filme árabe de origem libanesa, que venceu o Prémio do Júri do Festival de Cannes, em 2018. Nadine Labaki escreveu e realizou este filme, tendo, também ela, um pequeno papel enquanto actriz. Este é uma história de uma criança de um bairro pobre de Beirut que decide processar os pais por ter nascido, melhor, pelo mau viver e maus tratos infligidos por estes. Não é, por isso, uma história banal ou mesmo espectacular, o facto de ser tão crua e realista é revelador de que há ali qualquer coisa muito próxima e tocante das personagens ali caracterizadas.
A realizadora filma o seu Zein do início até ao fim do filme, as suas peripécias e anseios, como se estivesse a escalar o Monte Olimpo. Ela não larga o seu pequeno actor, plano atrás de plano, aproveitando a sua destreza e diálogo fácil junto da câmara. Abas Kiarostami dizia que o seu cinema pretendia ser uma visão do mundo através do olhar das crianças. Nadine Labaki parece ter escutado as suas sábias palavras, seguindo este lembrete da melhor forma possível, ou então reviu muitas vezes filmes como "Pixote", de Hector Babenco, ou ainda "Los Olvidados", de Luís Buñuel. É que "Zein" parece não representar e, por isso, é por demais convincente e autêntico, cativando e prendendo o espectador num turbilhão de emoções, daí que o resultado só poderia ser belo e pungente.
Esta película conta ainda com a banda sonora de Khaled Mouzanar, num registo de enorme arrebatamento e delicadeza e tal, como já foi anteriormente referido, com um "actor" irrepreensível e  magnetizante - Zain Al Rafeea. Caso para perguntar: quem pode ficar indiferente  este retrato cruel de uma infância perturbadora e dolorosa? O filme, no entanto, não pode ser visto como um dramalhão, sendo que as cenas passadas no parque de diversões ou no carrossel são pura magia cinematográfica, para além de uma fotografia que nos convida a intuir os cheiros, lugares e vivências ali representados.
Uma última nota para referir que, aquando da apresentação do filme em Cannes, o público presente prestou-se a uma ovação de quinze minutos na presença da realizadora, produtor e do seu  actor de doze anos, de origem síria, que vivia à altura em Beirut, mudando-se assim, à semelhança do que acontece no filme, não para a Suécia, mas sim para a Noruega, onde actualmente já vai à escola. Pura premonição?