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Monica Vitti, 1960 (Fotografia Museo Antonioni, Ferrara) |
quarta-feira, 25 de janeiro de 2023
segunda-feira, 23 de janeiro de 2023
sábado, 21 de janeiro de 2023
Um Poema de João Paulo Esteves da Silva
(de impossível esta música)
Vem a música à procura…
sobre a poeira mais seca
de seus passos saltam peixes,
traz a tua vida no cantil que se derrama;
em água vestida de sede
procura o que vai criando:
sobre a poeira mais seca
de seus passos saltam peixes,
traz a tua vida no cantil que se derrama;
em água vestida de sede
procura o que vai criando:
palavras e violinos.
in "Notas à Margem", Poemas sobre "Habitar o Tempo" de Vieira de Freitas, Amores Perfeitos, Maio de 2002.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
terça-feira, 17 de janeiro de 2023
FALTA#5: FAUNA e FLORA no Prelo!
Chega, assim, como quem não quer a coisa. Com a temperatura amena e o vento da estação. É um facto: não está muito frio, dizem. Pelo menos por aqui ainda se avistam outras estações do ano, por pequenos momentos, é verdade. A água, essa, é sempre abundante, não tem parado de cair. Por vezes, o sol irrompe, há neblinas, tardes lentas e prazenteiras, árvores silenciosas, ainda que não tivéssemos notícias de que o ilustre compositor
veneziano tivesse alguma vez passado por este território.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2023
"Prazeres"
O primeiro olhar da janela de manhã
O velho livro de novo encontrado
Rostos animados
Neve, o mudar das estações
O jornal
O cão
A dialética
Tomar duche, nadar
Velha música
Sapatos cómodos
Compreender
Música nova
Escrever, plantar
Viajar, cantar
Ser amável.
O velho livro de novo encontrado
Rostos animados
Neve, o mudar das estações
O jornal
O cão
A dialética
Tomar duche, nadar
Velha música
Sapatos cómodos
Compreender
Música nova
Escrever, plantar
Viajar, cantar
Ser amável.
Bertolt Brecht
sábado, 14 de janeiro de 2023
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
Um Poema de Ana Paula Inácio
Deixa a mulher indicar-te o caminho
atrás tens o lago
à frente o destino
atrás tens o lago
à frente o destino
são páginas a mais
eu sei,
desfaz-te delas
faz uma tocha
alumiar-te-ei o caminho.
eu sei,
desfaz-te delas
faz uma tocha
alumiar-te-ei o caminho.
Setembro de 2020, (Porto, Ilhas).
segunda-feira, 9 de janeiro de 2023
Do "Estrangeiro" de Caetano Veloso
O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o Albino Hermeto não
enxerga mesmo muito bem
quarta-feira, 4 de janeiro de 2023
"Lobo e Cão": Esta Luz Crepuscular!
Assistir a “Lobo e Cão”, uma longa-metragem focada no que é vital e diverso no humano, assinada pela realizadora Cláudia Varejão, no Cinema Trindade, no Porto, longe das ilhas, pode ser o segredo para um olhar distanciado propiciador de uma reflexão mais livre e descomprometida.
Comece-se, pois, pelo título que remete de imediato para um lugar de transição, essa linha ténue que vai da clausura à liberdade, a realidade entre o dia e a noite, do interior ao exterior, a divisão do feminino e masculino, no fundo, esse feixe de luz crepuscular em que tudo se transforma. Daí, ter sido muito feliz a escolha deste título na fixação efémera dessa passagem, dado que estamos na presença de três amigos adolescentes em mudança.
“Lobo
e Cão” é, sem dúvida, um filme delicado, que não tem pretensões em dividir as
águas, mas sim aproximar e dialogar com as diferenças, sem ser invasivo. A
película aborda a comunidade queer de São Miguel, no que isso possa ter
de "particular" ou “alienígena”, sobretudo para quem se limita a
observar do exterior. No entanto, o seu olhar é feito a partir de dentro e com
grande respeito pelas pessoas. É que Cláudia Varejão gosta de filmar, com vagar
e proximidade, a assunção de personagens comprometidas com o seu corpo e os
seus sentimentos, associados ao lugar de origem, refletidos na sua identidade.
Por esse motivo, a realizadora filmou "Ana", Ana Cabral, com muito
cuidado e sensibilidade, sendo que esta tem aqui um papel de enorme
expressividade física e contenção sentimental. A “Paulina”, Marlene Cordeiro, a
mãe de "Ana", transporta consigo o passado e o medo de ter falhado
nos cuidados maternos, realçando um registo facial sofrido, de resistência e
firmeza desmedida. Depois, há também Ruben Pimentel (Luís) e Cristiana
Branquinho (Cloé) que dão oportunidades de sobra à realizadora portuense de
tocar em emoções reprimidas, soltar afetos contidos, expressar perdas e outros
tantos sonhos por cumprir. A imagem do filme absorve-os de tal modo que estes
parecem dominar o mundo da representação há muito tempo, tal é o desembaraço
perante as câmaras. No entanto, após o visionamento do filme, o embaraço é dos
que continuarão a recusar a diferença dos que vivem e sofrem em silêncio com os
seus desejos e anseios por realizar.
Desta feita, esta primeira longa
metragem de Cláudia Varejão, com a duração de 110 minutos, é um rico presente
cinematográfico que nos devolve a ilha sob a forma de mosaico humano plural -
para além da bonita fotografia - sendo esta filmada maioritariamente na
freguesia de Rabo de Peixe, em São Miguel.
Por último, sublinhe-se que “Lobo e
Cão” já ganhou o prémio principal da secção Giornate degli Autori do Festival
de Veneza e que contém uma banda sonora capaz de abarcar os mais diferentes
registos sonoros: Xinobi, que traz três temas imponentes “Toute une Premier
Fois” “Searching For” “Cruise Fort V2”, os Vive La Fête, com um dos temas
musicais evocativos da narrativa - “Porque te Vas?”- num tema antigo de
Jeanette, a britânica que adorava a cultura espanhola, o “Concerto em D Minor,
BWV 974 II Adagio” de Johann Sebastian Bach, interpretado por Olga Schoeps, ou
ainda o “Das Buch der Klänge”, de Hans Otte, tema mais que hipnotizante tocado
aqui pela pianista Joana Gama.
terça-feira, 3 de janeiro de 2023
segunda-feira, 2 de janeiro de 2023
sábado, 31 de dezembro de 2022
2023: Muda que Muda!
O ano de 2022 está a chegar ao fim e,
com ele, permanecerão coisas boas, bem como outras más que se perlongarão
no tempo, mas agora com outra roupagem. Felizes estávamos quando pensámos ter
saído do pesadelo pandémico, com a ajuda das vacinas e a queda das máscaras, mas foi sol de pouca
dura. Não tardou e logo entramos numa guerra em solo europeu. É sempre assim, o progresso
humano não pode ser considerado linear.
2023 vai entrar de mansinho e nós continuaremos por aqui, certamente, com a mesma energia ou à procura dela. Poderia ter sido um ano inesquecível e, no entanto, à semelhança de todos os outros anos, as guerras, a fome, o desperdício e o desequilíbrio humano seguem de forma indelével. Até quando?
Na verdade, há sempre pouca coisa que muda, sendo necessário destrinçar o essencial do supérfluo, ainda que seja indispensável que continuem a existir a força das canções de Nick Cave, a firmeza do timbre de Cátia Mazari Oliveira, a profundidade de Adrianne Lenker, a dolência de Rita Costa Medeiros ou a melancolia de Maria Carolina e Hillary Woods. De volta esteve também a voz delicada de Anna Jarvinen. E, como seria se o novo ano trouxesse de volta a dupla Medeiros/Lucas com uma mão cheia de canções? Continuando pelo lado dos ouvidos, cada vez mais o palco como atenção e o prazer da escuta, a música ao vivo - Sessa e Rodrigo Amarante, dois príncipes da palavra, encheram de corpo e alma a edição do presente ano do Tremor!
2023 vai entrar de mansinho e nós continuaremos por aqui, certamente, com a mesma energia ou à procura dela. Poderia ter sido um ano inesquecível e, no entanto, à semelhança de todos os outros anos, as guerras, a fome, o desperdício e o desequilíbrio humano seguem de forma indelével. Até quando?
Na verdade, há sempre pouca coisa que muda, sendo necessário destrinçar o essencial do supérfluo, ainda que seja indispensável que continuem a existir a força das canções de Nick Cave, a firmeza do timbre de Cátia Mazari Oliveira, a profundidade de Adrianne Lenker, a dolência de Rita Costa Medeiros ou a melancolia de Maria Carolina e Hillary Woods. De volta esteve também a voz delicada de Anna Jarvinen. E, como seria se o novo ano trouxesse de volta a dupla Medeiros/Lucas com uma mão cheia de canções? Continuando pelo lado dos ouvidos, cada vez mais o palco como atenção e o prazer da escuta, a música ao vivo - Sessa e Rodrigo Amarante, dois príncipes da palavra, encheram de corpo e alma a edição do presente ano do Tremor!
Depois, que se continue a ler e reler por aqui a poesia de Alexandre
O´Neill, Sophia de Melo Breyner, Ruy Belo, João
Habitualmente, Emanuel Félix ou Herberto Helder. Para lá da poesia, há também os
ensaios de Theodore Kalifatides e Mário Augusto sobre a condição de emigrante
num presente de muros e fechamentos. E que não se esqueçam os livros de Alberto
Manguel, deliciosos de ler, interpretação das narrativas do mundo, quando é o prazer inicial da
leitura que se renova, ou ainda a curiosidade em mergulhar nos textos e livros de
memórias do Jorge Silva Melo, personalidade enorme do teatro que nos deixou recentemente. Foi também o ano em que
o cinema andou menos pelo ecrã do
computador ou na televisão. Recorde-se, por isso, o documentário “Lúcia e Conceição”, de
Fernando Matos Silva, no Centro de Artes Contemporâneas – Arquipélago, "Les
Açores des Madredeus" e “No País de Alice” de Rob Rombout e Rui Simões
respectivamente, na Sala 2 do Teatro Ribeiragrandense, através do Clube de
Cinema da Ribeira Grande. Por último, “Lobo e Cão”, longa-metragem da Cláudia Varejão no Cinema
Trindade, que é uma belíssima expressão do vital e do diverso, devolvendo à ínsula o sonho e o fascínio humano.
Por fim, a memória de uma visita maravilhosa ao jardim do Palácio Palácio de Sant´Ana, onde me foi dado a conhecer as suas árvores frondosas e vistosas, num passeio rico pela diversidade dos elemento vegetais e florais que remontam à herança de oitocentos, num percurso em que se avistam araucárias, yucas, melaleucas e dragoeiros, para além de um metrosídero que conta com 170 anos de idade oriundo da Nova Zelândia. Tudo o resto é do domínio do indizível. Um feliz 2023!
Por fim, a memória de uma visita maravilhosa ao jardim do Palácio Palácio de Sant´Ana, onde me foi dado a conhecer as suas árvores frondosas e vistosas, num passeio rico pela diversidade dos elemento vegetais e florais que remontam à herança de oitocentos, num percurso em que se avistam araucárias, yucas, melaleucas e dragoeiros, para além de um metrosídero que conta com 170 anos de idade oriundo da Nova Zelândia. Tudo o resto é do domínio do indizível. Um feliz 2023!
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