quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
A Melhor Juventude de Marco Tullio Giordana
“Eu
devia ter percebido mas não percebi nada. Talvez não seja verdade e eu tenha
até percebido mas foi como aconteceu com a Giulia. Eu podia tê-la impedido. Em
frente da porta. Ela virou-se e ainda olhou para mim. Eu fechei a porta e
apaguei tudo. Agora, nada resta. As escadas da sua casa, a serradura no chão,
os livros no chão, a porteira…Eu devia tê-los impedido. Amava-os aos dois mas
não fui capaz de aprisioná-los nesse amor. Era a minha ideia de liberdade em
que cada um tem o direito de viver da forma como lhe apetece.”
in “A Melhor Juventude” de Marco Tuglio Giordana
Três Poemas
Poema Um: a Curiosidade
Soube que estava por ali alguém
que se interrogava
na tarde envelhecida
Enquanto teimavas acender
um raio na faísca da noite
observavas atento
uma beleza renascentista
uma súbita indagação
A inclinação pela abstração
o saber, a dúvida,
a dilatação do dia
a atracção dos corpos
benigna inquietação
daqueles maracujás
em silêncio.
Poema Dois: A Imobilidade
A corda soltou-se do novelo
preso à distância de um gesto
Dir-te-ia agora frágil
locomotiva parada
demoro-me entretanto
Houve uma promessa
verbos oriundos de súburbios
em disputa
idiomas dispersos
adormecidos
Poema Três: Competência Social
Foges
qual cetáceo em fuga
permaneces embriagado e choras
a ternura comovida
à espreita
chega de gestos temidos
gorgulhos de falsos viajantes
criam-se raízes em portos
que se afastam devagar
nos pulmões da solidão
e retiras-te da promessa
eterna
de um corpo em trânsito.
Soube que estava por ali alguém
que se interrogava
na tarde envelhecida
Enquanto teimavas acender
um raio na faísca da noite
observavas atento
uma beleza renascentista
uma súbita indagação
A inclinação pela abstração
o saber, a dúvida,
a dilatação do dia
a atracção dos corpos
benigna inquietação
daqueles maracujás
em silêncio.
Poema Dois: A Imobilidade
A corda soltou-se do novelo
preso à distância de um gesto
Dir-te-ia agora frágil
locomotiva parada
demoro-me entretanto
Houve uma promessa
verbos oriundos de súburbios
em disputa
idiomas dispersos
adormecidos
Poema Três: Competência Social
Foges
qual cetáceo em fuga
permaneces embriagado e choras
a ternura comovida
à espreita
chega de gestos temidos
gorgulhos de falsos viajantes
criam-se raízes em portos
que se afastam devagar
nos pulmões da solidão
e retiras-te da promessa
eterna
de um corpo em trânsito.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
Como Navios Tristes que partem ao Fim da Tarde (1)
Sabia que ele
corria sempre para qualquer lado, parecia um pássaro ferido. Era, à altura,
professor de Matemática. Gostava de beber macieira, ingeria muito álcool e
usava uma gabardine preta. Sentávamos à mesa do café para falar sobre música.
Tinha uns olhos cor de amêndoa demasiado vermelhos, cansados, perdidos, numa
cute bastante morena. Nunca soube porque conversava comigo. Provavelmente, devia
ser porque ouvíamos os mesmos grupos da new
wave apesar da diferença de idades. "És ainda um puto", dizia-me. E eu ouvia-o mais do que falava. Como
eu gostaria de voltar a encontrá-lo. Nunca mais soube nada dele.
domingo, 3 de dezembro de 2017
Ricardo Ribeiro no Teatro Micaelense: Voltar ao Sul!
Não sei exactamente de onde vem aquela voz, a origem daquele longevo eco, mas lembrei-me do sul. Lembrei-me ocasionalmente do flamenco, viajei também pelas ruas e becos de Alfama, Mouraria e Madragoa. Dei por mim a entrar nas casas de fados, a sentir o cheiro da mistura, da mestiçagem, a calcorreear os degraus e as pedras da calçada da cidade antiga. Apaixonei-me de novo pelas memórias olisiponenses e fui transportado de livre vontade para a desalmada mágoa, a paixão e vício do gosto de existir. Embalado por aquele gesto que, diga-se, julgo ser sido intenso e genuíno, rendi-me perante aquela postura e o timbre dolente daquele canto. Por instantes, o sul era um local palpável, tangível. E...era a voz de Ricardo Ribeiro que me servia de transporte.
Agradecer Basta
“É
justo e de bom-tom agradecer algo que nos dão ou um serviço que nos prestam,
por mais insignificante que este seja. Pode ser uma convenção, mas não o é
apenas: representa sempre um gesto de cortesia e de civilidade que sela uma
espécie de pacto de entreajuda entre pessoas que se entendem e respeitam. E é
também o reconhecimento do esforço do outro. Sempre o fiz e continuo a fazer,
mas o inverso – agradecerem-me por aquilo que ofereço a alguém – tem vindo
ultimamente a ocorrer cada vez menos vezes, em especial com interlocutores que
detêm uma conceção utilitarista da vida social ou têm dos outros uma imagem
instrumental.”
Rui Bebiano, in A Terceira Noite, 17 de Novembro de 2017
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
Raul Brandão nos Açores
«Vinte e seis anos depois da primeira edição, o referido artigo de Pedro da Silveira num prestigiado suplemento literário, em Junho de 1953, não foi suficiente para motivar um editor - nacional ou regional - a reparar no livro, pese embora a ênfase colocada nas suas qualidades: "Não hesito em classificar as Ilhas Desconhecidas como dos maiores livros portugueses de literatura de viagens de todos os tempos da Literatura Portuguesa.(...) Ao pé disto, tudo o mais que estranhos escreveram acerca dos Açores é música desafinada. As belas páginas de Chateaubriand sobre a Graciosa, o livro dos sagacíssimos Joseph e Henry Bullar, o americano Webster, os escritos de Alberto do Mónaco, de Knud Andersen e de tantos outros podem considerar-se quase nada ao pé de As Ilhas Desconhecidas.»
pequeno excerto do texto "Raul Brandão e os Açores" de Vasco Rosa, in Revista Atlântida, 2017.
Da Ética
"Deixou de haver ética na criação artística. Deixou de haver compromisso. Deixou de haver sangue. É raro encontrar-se uma obra, mesmo de menor qualidade estética, em que se sinta a preocupação de comunicar."
José Mário Branco, in Ípsilon, 1 de Dezembro de 2017.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
À Noite Vou Cantar à Namorada
À
noite vou cantar à namorada
canções
que a Lua canta na altura de namorar
ela
acha ela acha muita piada
quando
eu à noite as vou cantar
Canções
que a Lua canta na altura de namorar
à
noite eu vou cantar à namorada
ela
assoma ela assoma com a continuação era notada
quando
eu à noite as vou as vou cantar
E
ela acha ela acha a isso muita piada
e
eu lá as vou eu lá as vou cantar
que
ela à noite ela assoma com a continuação era notada
e
a continuação era notada não é para desperdiçar
Assim
quando alta noite a Lua é já luar
e
ela aparece toda amarrotada
eu
imagino-a nua a se deitar
a
das canções à noite namorada.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Da Atlântida
![]() |
Revista Atlântida com capa de Luís Godinho |
António Pedro Lopes, in Revista Atlântida, 2017
terça-feira, 28 de novembro de 2017
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
Sobre as lideranças
"As lideranças ocidentais não têm mostrado criatividade alguma. Mas encontro enorme criatividade na China, por exemplo na ideia que tiveram de convidar todo o mundo a usar a nova rota da seda, a infra-estrutura de estradas e caminhos de ferro e portos que estão a construir. Com esse projecto eles conseguiram abrir África muito mais do que em todo o período do colonialismo. Claro que não estão a fazê-lo só por generosidade, estão à espera de recolher os seus lucros. Mas estão a mostrar como se podem encontrar novas oportunidades. E os africanos estão gratos. A China tem a vantagem de tratar os africanos de uma maneira muito diferente e melhor do que fizeram os britânicos, os franceses, os belgas, os portugueses. O que se passou no (período colonial) não foi nada bonito."
Johan Galtung, in Público, 24 de Novembro de 2017
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