sábado, 4 de dezembro de 2021

Obrigado, Pedro Gonçalves!

Neste Mar...

 Fontes hidrotermais                               
  28 espécies de mamíferos marinhos
  6 espécies de tartarugas marinhas
  560 espécies de peixes
  10 espécies de aves marinhas nidificantes 
 » 400 espécies de algas 
 »1000 de espécies de invertebrados 
                                               in Blue Azores 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

"notas sobre um naufrágio" de David Enia

"Alguém tentou remar, usando os braços por cima da borda. Alguém saltou para a água, tentando arrastar o bote a nado.
Um homem de quarenta anos aconselhou Bemnet a não se lançar ao mar, a não remar com os os braços, a ficar quieto, a poupar todas as suas energias, a não gastar forças.
Soou quase como uma ordem.
Bemnet decidiu dar-lhe ouvidos.
Alguém tinha a garganta tão seca que tossiu sangue.
Alguém, transtornado com sede, bebeu água do mar.
Verificaram-se as primeiras agonias, seguiram-se os primeiros vómitos, dentro e fora do bote.
Surgiram os primeiros casos de alucinação e os primeiros desmaios."

Edições Dom Quixote, 2021.

Série Novos Vizinhos: 4ªTemporada

 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Van Gogh por Van Gogh de Jorge Sousa Braga

Gostaria de ter sido um girassol. Um girassol hirto no seu caule, de
longas folhas verdes desajeitadas e uma enorme corola doirada, se
guindo cegamente o sol.
Estou só e a minha cabeça explode em milhões de girassóis.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Fim de Semana Musical no Arquipélago


     Os WE SEA apresentaram-se em palco nesta última sexta-feira, com Rui Rofino (voz), Clemente Almeida (sintetizador e baixo), Rómulo San-Bento (guitarra) e Pedro Rodrigues (bateria) perante uma blackbox do Arquipélago disponível e com a sala há muito esgotada. A audiência estava, por isso, pronta para aderir com rapidez, pois estava completamente sintonizada com o cancioneiro, notando-se que estes jogavam em casa dada a familiaridade que se sentia tal era o ambiente de festa pressentido a cada canção concluída. Com os temas dos álbuns anteriores intercalados com o a apresentação do seu novo trabalho, “Cisma” revelou-se um disco mais consistente, aprimorado e repleto de canções seguras e prontas a ser trauteadas e acessíveis a qualquer playlist de uma rádio bem perto de si. Foi, sem qualquer dúvida, um concerto muito bem conseguido, evidenciado uma etapa diferente e com um espírito de banda que se pretende que continue e solidifique. Houve tempo para alguns momentos a roçar a perfeição, com alguns novos temas ao vivo a soarem orelhudos, bem audíveis e ritmados, como são os casos de “Seja como For” ou “Cisma”. Por isso, há que dar os parabéns à banda pelos seus cinco anos de existência, esperando que a novidade se repita a cada novo disco e concerto ao vivo. 
      No domingo, ao fim da tarde, foi a vez de Luís Senra subir ao palco da blackbox para tocar e dar azo ao seu saxofone navegante, permitindo-se este a um diálogo da sua barca sonora de forma serpenteante e experimental no violino e poesia de Filipa Gomes. Desse empreendimento em palco, resultado da oficina intuitiva com o objetivo do concerto "Reflexos da Origem", há que ressaltar a graciosa construção erguida em pedras de basalto negro, sugerindo aqui uma experimentação cenográfica baseada na união dos músicos presentes. Uma prestação curta, é certo, mas sincera na expressão musical e do amor necessário a um mundo em colapso e em que cada um de nós se encarcerou e perdeu o norte mas que lentamente não tardará a voltar a abrir-se. E que, por isso, haja permanentemente música em redor.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Cinema Polaco: "Ida" de Pawel Pawlikowski

       Está disponível na RTP Play e é uma das continuadas surpresas que nos chega de um país com uma longa tradição cinematográfica: a Polónia.  "Ida", (2013), pertence ao realizador polaco Pawel Pawlikowski, actualmente com 64 anos de idade, e contou com o argumento de Rebecca Lenkiewicz. Após conhecimento do nome do realizador, havia, então, o risco da desilusão, depois de saber da autoria do belíssimo, para não dizer magnífico filme, “Cold War”, de 2018.
         "Ida" conta a história de uma jovem freira que é aconselhada no convento a visitar a família antes de fazer os respectivos votos. Ao descobrir que é de origem judaica, Ida (Agata Trzebuchowska) decide partir com a sua tia, Wanda Gruz (Agata Kulesza), em busca das suas raízes pessoais. A partir daqui é todo um mundo novo que se revela e desvela à sua frente. O ambiente claustrofóbico é facilmente reconhecível nos edifícios, carros, cidades e paisagens presentes no cenário desse período da Polónia do pós-guerra. Quem viajou nos anos noventa pelo Leste europeu, após a queda do muro de Berlim, já tinha visto certamente "A Insustentável Leveza do Ser"(1987), de Philip Kaufman, e, também este, um filme impregnado de fotografia a preto e branco, assente numa narrativa amorosa e de melancolia amarga desse período pesado associado ao fracasso do socialismo real. São imagens fortes marcadas pela nostalgia e pequenas libertações desses momentos repressivos, pontuados aqui e ali por momentos de esperança que viriam a resultar em "democracias", que se viriam a afirmar-se promissoras neste novo contexto político  europeu. 
          Ida” é, sem dúvida, uma obra de grande intensidade, com a presença e atmosfera do jazz daquele período. Por isso, há aqui uma espécie improviso interior. Esta explosão da tensão só damos conta no fim do filme, dado que de tanto segura e serena que é a personagem visto na sua decisão de implodir com tudo, sentido no seu caminhar em frente. O que morre em nós quando queremos saber a verdade do que fomos? Porque é que nos deixaram viver quando a obrigação era ter ficado sepultada naquele buraco?, sim, perguntamos nós!
         De qualquer forma, passados estes anos todos do fim do  bloco de leste, este cinema parece surgir fora do tempo, sem lugar, ainda que carregue dentro de si uma pulsão e nervo que impressiona pela força das suas imagens e rostos. Curiosamente o filme ganhou vários prémios: Óscar para melhor filme estrangeiro em Hollywood, melhor filme para a Academia de Cinema Europeu e melhor filme para a Academia Polaca de Cinema. Merecidos, evidentemente.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

"a pão e água" de Joaquim Castro Caldas

ainda há gente boa, de cabeça deslumbrada, o coração em cima

da mesa com uma pistola descarregada, a contar a última aventu-

ra sem medo que lh´a levem, ainda gente pura que partilha

a aventura e empresta a pistola, carrega o coração às costas com

a cabeça à mostra: ainda há gente, e bem haja, com quem se

pode abrir a vida toda e a quem se deve o prazer de ser gente,

não só a bem de quem mas à maneira de ser gente pura e mais

nada. Ainda há gente rija e linda que demora mais a amar do que

é amada. um grande amor ainda espera pelo amor mais do que

uma vida inteira.

in Mágoa das Pedras, Deriva Editora, 2008.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

WE SEA: "Cisma" no Arquipélago da Ribeira Grande


Cinco anos volvidos desde a sua apresentação e com um novo álbum pronto a estrear eis que os ribeiragrandenses, WE SEA, estão de volta ao Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande.  O encontro dar-se-á no dia 26, sexta-feira, às 21h30. Com os habituais Rui Rofino (voz) e Clemente Almeida (sintetizador e baixo) estarão também em palco  Rómulo San-Bento (guitarra) e Pedro Rodrigues (bateria) na apresentação de “Cisma”, 2021, o disco que substitui “Basbaque”, editado em 2019, e que será o mote para reunião alargada da sua legião de seguidores neste seu regresso a casa!

Desta feita, aguarda-se com expectativa, para lá da estreia dos temas de "Cisma", o entoar de canções como “Ser de Ver”, “Basbaque”, “Tantos mas, mais quantos Nós?”, “Verde Seco Feito Negro” na voz distinta e arrojada de Rui Rofino! É sabido que Rui Rofino continua a escrever de forma livre, divertida e desempoeirada! Este canta com muita alma e é seu costume entregar-se em palco, destilando a verve e o charme na língua de Antero de Quental, mantendo incólume o seu sotaque açoriano. Quem o ouviu e viu pela primeira vez, há cinco anos, soou de imediato a descoberta e augúrios de encantamento. É previsível, agora, que haja uma maior maturidade e desenvoltura em palco, uma diversidade na explanação no cardápio das narrativas e versos tal  como maior plasticidade na luz e no timbre das canções. Por isso, ouvidos à escuta, dado que não já não há muito que cismar até à próxima sexta-feira!