quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Apresentação de "Mandem Saudades"

          É um livrinho pequenino editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, não custa mais de cinco euros, e tem o título “Mandem Saudades”. O seu autor é Mário Augusto, jornalista da RTP e realizador do programa sobre cinema - “Cinemax”, que também fez um documentário com o mesmo nome. O livro e o filme serão hoje apresentados, às 18 horas,  no Auditório da Freguesia de Santa Clara, em Ponta Delgada.

         “Mandem Saudades” retrata e emigração portuguesa no Havaí, aquela que foi realizada entre o final do século XIX e início do século XX, contendo relatos da comunidade portuguesa que ainda hoje mantém viva algumas tradições. Nesta saga emigrante é de destacar a grande quantidade de açorianos que se estabeleceram por aí, contribuindo sobretudo para a baleação e o trabalho nos campos da cana do açúcar. Por lá deixaram ainda as festas do Espírito Santo, o pão doce e as célebre malassadas açorianas! 

Árvore e Poema

Aqui está uma árvore
o vento canta poemas sem palavras
na sua ampla copa
Sei
que o destino da árvore é transformar-se em papel:
um papel com ânsia de palavras
Sei
de uma palavra
com ânsia de se plasmar no papel
de uma palavra com ânsia de começar um poema
Sei de um poema não escrito que tem ânsia da sua
primeira palavra
de um poema que tem ânsia do seu poeta
Mas sei também
que o poeta sofre
quando se abate a árvore para a transformar em papel.


Maria Wine,  Nattlandia, 1975

Nefelibatas de Todo o Mundo...

 Aqui olha-se para o céu: https://cloudappreciationsociety.org/

PS; Via reportagem DN: https://www.dn.pt/1864/a-sociedade-dos-que-andam-nas-nuvens-10149441.html

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Terça-Feira

Não tragas
o aroma
dessa rota azul
 
hoje é terça-feira
e eu tenho
as pernas ocupadas
com o outono
de outra rua
menos morta
 
 Hoje é terça-feira
mas não sei
ouvir outra zoada
se não os teus
sapatos brancos
repletos de noite
a descer
a escada do meu
corredor esquecido.

 J.H. Borges Martins in “Por dentro das Viagens”, 1973, edição de autor.

domingo, 20 de novembro de 2022

Público: Primeira Página

Sábado: "O `mundo à parte´ dos trilhos e das fajãs de São Jorge"
Domingo "Ponta Delgada quer ser uma democracia cultural" 

in Jornal Público

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Um Poema de Miguel Martins

A vida é impossível, não importa
o Vicks Vaporub, o que  nos fazem 
ou o que nós fazemos, se ou quando.
Desde que o primeiro homem se lembrou
de que não era cão, ficámos condenados
a saltérios e musas e juros com fermento,
à sina de gravatas e aprestos.
Que mal tinha ser cão, além do bem
de comer carne crua e cheirar cus
e vaguear pelas estações do mundo?
Mas não: havia que salgar a focinheira
do porco, pôr rosmaninho nas virilhas
e inventar a cadeira rotativa,
moribundelirar amores obtusos
e de tudo intentar a mais-valia,
composta e previdente e pequenina.

Ora acontece que, seja dia ou noite,
só me apetece ladrar à maresia. 

in "Do Lado de Fora - Dispersos escolhidos-1995-2017"-edições Abysmo.

domingo, 6 de novembro de 2022

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

"No País de Alice" de Rui Simões


    No País de Alice é um bonito filme! E, ultimamente, não abundam filmes bonitos! É um filme para todos aqueles que ainda gostam 
muito de Portugal, uma declaração de amor a este país antigo com séculos de história, um cartão postal apaixonado em forma de poema visual para um país que não desiste das suas raízes, que não renega, mas, sim, exalta a valorização do seu território periférico e que, por sinal, ainda não vacilou completamente perante uma globalização que tudo oblitera, uniformiza e condena ao desaparecimento.
Neste documentário de quase duas horas, o realizador socorre-se da sua filha para mostrar este bonito país que se recusa a desaparecer. Para dar conta desse testemunho, Rui Simões viajou com Alice para lhe mostrar uma paisagem rica e variada, que vai dos Açores a Pitões das Júnias, passa pelo Soajo, Aveiro, Idanha-a-Nova e Belgais, para depois se encerrar em Lisboa, por motivos do pesadelo inicial da pandemia da Covid-19. Mas nem só de história e tradição vive  este “No País de Alice” – essencialmente na força das filarmónicas e dos caretos – já que  também arrisca com os nómadas digitais que se afastam dos grandes centros para viver junto da natureza ou a ideia do guardião do tejo que usa as redes para denunciar a poluição, para lá da galeria de imagens e de afetos do fotógrafo Álvaro Rosendo, ainda a escola de música de Belgais, pela mão de Maria João Pires, que nos traz a arte de viver. E, por falar em música, nada mais imprevisto e entusiasmante do que seguir estas imagens acompanhadas pela sonoridade dos Dead Combo, na guitarra mítico-mágica de Tó Trips, para além do desfecho desesperante e sombrio pela voz de Nick Cave.
 Última nota para aludir que o filme foi exibido em antestreia nacional na sala 2 do Teatro Ribeiragrandense, e que, ainda dentro deste ciclo de documentários promovidos pelo Clube de Cinema local, exibirá já esta sexta-feira, outro belo e instigante documentário intitulado - “Les Açores de Madredeus”, de Rob Rombout que, à semelhança de Rui Simões, também ele, estará presente para falar com o público açoriano.