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Fotografia de Carlos Olyveira |
terça-feira, 4 de julho de 2017
segunda-feira, 3 de julho de 2017
Do Estudo de Si Mesmo
"O neoliberalismo fez as pessoas vaidosas, narcisistas e competitivas e fá-las pensar bastante em si mesmas e a maior parte das vezes, pensar em nós mesmos é uma perda de tempo. A única maneira útil de pensar em nós mesmos é em relação a outras pessoas, o modo como somos afectados por elas e as afectamos com o que fazemos. O estudo de si mesmo só faz sentido quando nos faz pensar em nós e nos outros enquanto unidade, em relação. Quando penso nessas imagens no facebook penso que essas pessoas nunca sabem qual é o valor da solidão porque estão sempre a tentar ser validadas. É desesperante."
Hanif Kureiishi in Ípslon, 30 de Junho de 2017.
sábado, 1 de julho de 2017
Da Performance
[Artes] Manifestação artística que pode combinar
várias formas de expressão.
in Dicionário Priberam da
Língua Portuguesa
sexta-feira, 30 de junho de 2017
Ítaca
Quando
saíres a caminho da ida para Ítaca,
faz
votos para que seja longo o caminho,
cheio
de aventura, cheio de conhecimentos.
Os
Lestrígones e os Ciclopes,
o
zangado Poséidon não temas,
coisas
assim no teu caminho não acharás nunca,
se
o teu pensamento permanecer elevado, se emoção
requintada
o teu espírito e o teu corpo tocar.
Os
Lestrígones os Ciclopes,
o
selvagem Poséidon não encontrarás,
se
com eles não carregares na tua alma,
se
a tua alma não os colocar à tua frente.
Faz
votos para que seja longo o caminho.
Para
que sejam muitas as manhãs de verão
Nas
quais com que contentamento, com que alegria
entrarás
em portos vistos pela primeira vez;
para
que páres em feitorias fenícias,
e
para que adquiras as boas compras
coisas
de nácar e coral, de âmbar e de ébano,
e
essências de prazer de qualquer espécie,
quanto
mais abundantes puderes essências de prazer;
para
que vás a muitas cidades egípcias,
Deves
ter sempre Ítaca na tua mente.
A
chegada ali é o teu destino.
Mas
não apresses em nada a tua viagem.
É
melhor durar muitos anos;
e
já velho fundeares na ilha,
rico
do que ganhaste no caminho,
sem
esperares que te dê Ítaca riquezas.
Ítaca
deu-te a bela viagem.
Sem
Ítaca não terias saído ao caminho.
Mas
já não tem para te dar.
E
se um tanto pobre a encontrares, Ítaca não te enganou.
Sábio
como te tornaste, com tanta experiência,
Já
hás-de compreender o que significam Ítacas.
Kostandinos Kavafis, edições Relógio D´Água, tradução,
prefácio e Notas de Joaquim Manuel
Magalhães e Nikos Pratsinis.
quinta-feira, 29 de junho de 2017
Resposta a Janeiro Antes Deste ir a Banhos
Caro Janeiro Alves,
Acuso a recepção entusiasta da sua ferial
missiva, típica de um homem que sabe que só o verão vale a pena e que esta é a
mais louca, livre e estouvada das estações. Na canícula, creio, temos tudo para
sermos felizes excepto os grilos. Nada contra os seus cânticos mecânicos e
repetitivos mas desconfio que na infância suportava muito melhor o seu
rebarbativo rumor. De certeza que e, fazendo jus à sua carta estival sobre os
doutores e engenheiros que partiram de férias e que não mais regressaram, estes
deverão, pelo menos, lembrar-se do trilar, ou melhor, do “gri-gri” de outros
verões.
Também eu, amigo Janeiro, continuo
entusiasmado com o turismo e sobretudo com a sua capacidade de irradiação. Imagine
só que há instantes, nesta cidade em que me calhou viver, me vieram
interrogar se estaria disponível para vender esta missiva que me encontro a
escrevinhar para si. Segundo o casal de jovens turistas, no seu país de origem
desconhecem já o que é a caligrafia e o próprio acto de escrever missivas em
esplanadas. Este acto quotidiano tornou-se, porventura, excêntrico. Por sinal, até
me queriam oferecer bom dinheiro mas disse-lhe que podiam fazer um registo
fotográfico e que procurassem um lugar na sombra. Curiosamente, enquanto
insistiam na aquisição da missiva, o empregado do café proferiu num português
arrematado e doce: “Vocês querem é mamar!”. Estes, embebecidos e discretos,
afastaram-se da mesa sem antes dizer: “You are really an artist!”
E o aluguer de casas? O meu amigo nem queira saber mas há dias passei nas ruas do agora denominado "Centro Histórico" e reparei que as casas onde tinha morado são agora sítios de alojamento local. Ainda bem que fui salvo a tempo pela nossa amiga Miriam que me arrendou um pequeno tugúrio baratinho junto do mar e que me serve, essencialmente, para assentar a moleirinha e o costado durante a noite.
Por último, auguro-lhe assim umas férias
inesquecíveis e espero que volte pois estou já a salivar pelo envio dum tupperware
de filetes de peixe que seguramente me enviará da cidade mais piscatória do sotavento
algarvio: Olhão!
Doutor Mara
Uma Ferial Missiva de Janeiro Alves
Caro Doutor Mara,
Noticio-lhe de forma entusiasta o seguinte
acontecimento: Eu, Janeiro Alves, vou de férias. Finalmente ausentar-me-ei da
minha presente localização geográfica, para surgir num desses resorts com tudo incluído e abanadores
de folha de palmeira, vestido a rigor e preceito, com camisa às flores e colar
ao peito. Já tenho comigo os panfletos, e posso dizer-lhe que o empreendimento
para onde vou é de segmento alto, bem climatizado e bem frequentado, e com ambiente
exótico e ornamentos tropicais, apesar de ser no Algarve junto a uns estaleiros
navais. Se o Doutor pudesse vislumbrar estas fotos coloridas de encher o olho,
poderia fazer uma pequena ideia da sensação caribenha que me invade neste momento.
E imagine que tudo isto não me custará um tostão! Apenas tenho de ir levantar o
voucher a um hotel aqui nas
redondezas, e assistir a uma pequena reunião de apresentação de um colchão. É
coisa para meia hora.
Doutor Mara, neste momento tenho os olhos
como que raiados de sangue e o coração a palpitar como uma criança, pela
efémera e ilusória felicidade proporcionada por esta incursão ao fantástico
mundo do turismo. Já me imagino bronzeado a dançar quizomba junto às piscinas
com as belas monitoras e animadoras culturais. Vai ser demais, Doutor! Debruço-me
porém sobre uma problemática, a meu ver razoável dentro daquilo que são os
padrões superiormente estabelecidos para a boa saúde mental, mas esgotante
neste meu processo de circunstancial euforia: E se eu não voltar? Conheço alguns
indivíduos que foram de férias e nunca mais voltaram. Inclusivamente Doutores e
Engenheiros, que estavam bem na vida. O mais longe que tenho ido ultimamente é
a Sacavém, e como o Doutor bem sabe, tenho uma certa tendência para viver as
consequências do meu constante deslumbre. Hoje posso ter uma certa contenção,
amanhã já não. Hoje sou o respeitável Senhor Janeiro, boa tarde, como está,
prazer em vê-la, e amanhã já sou o Janeirinho rei da festa da espuma, venha
mais uma, esta pago eu!
Mas se bem me conhece, não me deixarei
vencer por esta grave e hipotética situação. Estou neste momento a fazer as
malas onde, pelo sim pelo não, incluo um fato completo, que usarei apenas em
situações extremas de necessidade de reposição do meu estatuto e dignidade.
Por fim, manifesto o desejo de saber da
sua pessoa, e de como espera atravessar o período estival. Aceitarei a sua
habitual resposta - “esperarei sentado que passe a correr” – pois sei que
aprecia mais a frescura outonal e as folhas caducas a crepitarem por debaixo
dos seus sapatos italianos de cetim afivelados, e assim nada mudará e tudo
ficará como sempre foi, ou seja, na mesma. Mas conjecturas à parte, aguardarei
a sua resposta enquanto saboreio um cocktail à beira da piscina e lavo as vistas
com cloro de alta qualidade.
Deste seu amigo em turismo,
Janeiro Alves
segunda-feira, 26 de junho de 2017
Dois Poetas do Norte da Europa
Difícil de dizer que tudo é sem
sentido
para um homem que sabe que um
sentido
viria a mudar tudo.
Um dia o teu nome será ungido
pelo mar!
O mundo perdeu o seu teor salino
mas a tua boca tem um gosto a
sal.
Lars
Forssell
No
Outono
No Outono
ou na primavera –
o que é que importa?
O mar respira tão pesadamente
O mar fica tão polido depois
disso
As catástrofes esquecem-se tão
rapidamente
depois disso e a partir de agora
Gunnar
Ekelof
(Tradução de Vasco Graça Moura)
Do Roubo do Tempo
"Procuro alguma pureza do estado de decadência em que estamos a viver. Por outro lado a minha fotografia é também uma forma de resistência à violência do progresso, que está a roubar-nos tempo. Já não há tempo para pensar, só queremos o fútil."
Paulo Nozolino
domingo, 25 de junho de 2017
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